São Paulo, 20/06/2025 – Preocupações com a possiblidade de que o Irã promova uma “retaliação máxima” após os ataques de Israel, fechando o Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de um quarto do petróleo negociado no mundo, “são exageradas”, avaliou a importante casa de análises Gavekal, em relatório publico nesta sexta-feira.
Analistas de bancos entendem que eventual paralisação do tráfego em Ormuz poderia levar o petróleo a mais de US$100 por barril, um cenário ainda não precificado. Na semana passada, o presidente da petroleira italiana Eni disse à Reuters que, se o mercado estivesse considerando essa possibilidade, os preços já estariam na casa dos US$80 ou US$90, ante cerca de US$76 hoje.
O Irã não fez ameaças diretas de fechar Ormuz por enquanto, e a última vez em que cogitou tal medida foi em 2019, quando realizou alguns ataques a petroleiros, após a retomada de sanções dos EUA à exportação de petróleo do país. Antes, houve tentativa durante a Guerra Irã-Iraque, nos anos 1980, com diversos ataques a embarcações, mas intervenções lideradas pelos Estados Unidos garantiram que a passagem não fosse completamente fechada.
“Fechar o Estreito de Ormuz é mais fácil de falar do que de fazer. O Irã tentou e falhou durante a ‘guerra dos tanques’ nos anos 1980. E, mesmo que eles conseguissem, fechar o estreito seria contraprodutivo. A maior parte do petróleo escoado por Ormuz vai para a Ásia, notadamente para a China… O Irã não tem condições de antagonizar com a China, um de seus principais apoiadores”, escreveu a Gavekal.
Além disso, mesmo países do Golfo Pérsico poderiam ficar insatisfeitos com problemas em Ormuz, e não parece desejo do Irã comprar essa briga agora, acrescentaram os analistas.
Ainda assim, a Gavekal entende que uma eventual entrada dos Estados Unidos no conflito , com ataques a instalações nucleares iranianas, “poderia disparar uma alta de curto prazo no petróleo”, e que uma campanha sustentada de Israel contra alvos ligados à economia do Irã também poderia levar a um aumento de longo prazo nos preços de energia.
A principal preocupação é com eventuais ataques ao terminal de exportação de Kharg Island, no Golfo Pérsico, que poderiam tirar 1,5 milhão de barris por dia do mercado de petróleo. Além disso, poderia haver retaliação do Irã, também mirando instalações petrolíferas na região, ou até via fechamento de Ormuz, embora essa última hipótese seja menos provável.
“Ainda assim, uma campanha longa contra as infraestruturas de energia do Irã apertaria a oferta global e manteria os preços altos”, avaliaram os analistas Tom Holland e Tom Miller, da Gavekal.
OBJETIVOS E CONSEQUÊNCIAS
Para a Gavekal, ao perceber que Israel não conseguirá destruir as instalações nucleares do Irã, que são subterrâneas e estão além do alcance das bombas israelenses, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu parece estar buscando uma mudança de regime em Teerã.
As chances de sucesso nessa empreitada, porém, são baixas, segundo a Gavekal, inclusive porque os iranianos são ressentidos de intervenções estrangeiras no país, após golpe apoiado por Estados Unidos e Reino Unido em 1953, contra o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh.
“Ninguém nunca conseguiu uma mudança favorável de regime somente com poder aéreo”, resumiu a Gavekal. “Embora amplas seções da população iraniana se oponham ao regime atual, isso não significa que eles recebam bem Israel bombardeando suas cidades. Não mais do que americanos da oposição a Trump gostariam de uma tentativa da China de derrubar o governo americano”.
Para a Gavekal, os três cenários mais prováveis hoje seriam o Irã buscar um acordo de paz, renunciando ao programa nuclear; os EUA entrarem no conflito, bombardeando instalações nucleares do Irã; ou Israel manter uma guerra longa sem apoio dos EUA, atacando infraestruturas de energia para destruir a economia do Irã e deixar o regime de joelhos. Esse último cenário seria o mais desafiador para a economia global, segundo os analistas.