São Paulo, 13/3/2025 – As políticas comerciais de Donald Trump indicam uma tentativa de recriar a economia americana do pós-guerra, ignorando mudanças estruturais e tecnológicas, avaliou o chefe de pesquisa econômica da Julius Baer no Brasil, Samuel Pessôa, também professor da Fundação Getulio Vargas, em participação na TC News.
“Parece que ele quer colocar tarifas para fazer o relógio do tempo voltar para trás e trazer de volta a economia dos anos 50. Isso não vai acontecer. Ele vai desorganizar a economia mundial e gerar perda de produtividade. Todo mundo vai ficar pior, inclusive os EUA”, afirmou Pessôa.
“Ele parece ter na cabeça, quando fala em ‘Make America Great Again’, a economia dos anos 1950, quando a classe média americana tinha emprego em tempo integral na indústria, com plano de saúde, plano de pensão. De fato, esse tipo de emprego evaporou. Mas não evaporou porque foi para a China, ele foi trocado pelo robô”, acrescentou Pessôa, durante o programa Tarde TC News.
Pessôa diz entender o objetivo aparente de Trump, de eliminar o déficit comercial do país com parceiros, mas entende que “o diagnóstico está equivocado”, e até por isso é difícil analisar a racionalidade por detrás das medidas do presidente americano.
BARGANHA
Embora critique a lógica das tarifas de Trump, Pessôa reconhece que elas podem ter uma racionalidade estratégica, de buscar equilibrar as relações comerciais do país enquanto aliviam em alguma medida o déficit fiscal.
“É possível que ele use as tarifas para negociar acordos comerciais. Os EUA, historicamente, lideraram a abertura da economia global e praticam tarifas médias menores que outros países. Isso certamente é verdadeiro no comércio bilateral Brasil-EUA. Mas também é verdadeiro para China, União Europeia. Pode ser que Trump queira barganhar para reduzir tarifas externas ou elevar as dos EUA a um nível mais próximo da média global.”
De outro lado, as tarifas podem gerar arrecadação fiscal, acrescentou, e o impacto inflacionário pode ser “menos drástico que as pessoas imaginam”, devido ao câmbio flutuante.
“Se ele aumentar tarifas, o câmbio pode se valorizar, o que reduz o repasse inflacionário. Isso pode trazer alguma receita adicional, mas dificilmente resolve o problema fiscal americano”, ponderou Pessôa.
ASSINE NOVA NEWSLETTER DO FARIA LIMA JOURNAL
Faria Lima Journal lança nova newsletter, com leituras especiais para o fim de semana do investidor