Por: Luciano Costa, Gabriel Medina e Camila Nascimento
São Paulo, 07/03/2025 – O pacote de medidas divulgado ontem pelo governo federal para tentar conter o avanço dos preços dos alimentos deverá ter efeitos práticos mínimos, o que pode até se voltar contra a popularidade do presidente Lula no futuro, alertou hoje o consultor Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências e ex-ministro da Fazenda.
O vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou na noite de quinta-feira um corte de tarifas de importação para diversos produtos, como milho, óleo, soja, café e carnes, além de ampliação de crédito e incentivos a produtores. Hoje, Lula disse, durante evento, que está “muito preocupado” com o assunto.
“Se você olhar medida por medida, elas têm impacto negligível para a inflação. Não é por aí que vai resolver”, disse Nóbrega, em participação no Tarde TC News.
“Acho que o governo está fazendo muito barulho, e pode estar correndo o risco de a inflação não cair, e isso reverberar contra a popularidade do presidente, porque ele está prometendo coisas que não pode cumprir, ou seja, reduzir de forma importante o preço dos alimentos. Essa é nossa avaliação na Tendências”.
No caso das alíquotas de importação zeradas, foram contemplados produtos que o Brasil pouco importa, e em momento em que os preços também estão elevados no exterior, explicou Nóbrega. E eventual fomento a produtores só se traduziria em resultado prático na próxima colheita, em janeiro, fevereiro.
“POPULISMOS”
Nóbrega citou ainda um temor que vem rondando o mercado — de que o presidente Lula busque medidas “populistas” para tentar favorecer o desempenho nas eleições, ampliando gastos enquanto especialistas têm defendido justamente o contrário.
“Pode até acontecer que, se houver uma política populista, adicione impulso à economia, a economia vai crescer mais do que estão estimando. Mas às custas de inflação”, alertou. “E aí seria um tiro no pé para o presidente Lula. Porque a experiência está mostrando que a inflação é o principal fator de corrosão da pupularidade dos governos”.
O consultor ainda defendeu que o rigor das contas públicas, afetadas por diversas restrições, exigirá reformas estruturantes, e não cortes de gastos como analistas têm defendido.
“Significa que não há como, em termos operacionais, físicos, etc, fazer o corte de gasto que o mercado demanda. Portanto, para resolver essa questão, o Brasil tinha que realizar reformas esturutrantes, incluindo uma nova reforma da Previdência”, opinou Nóbrega, que foi chefe da Fazenda durante parte do governo José Sarney, no final dos anos 80.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)