Explicando a curva de juros

Vértices da curva de juros disparam com ata ´hawkish´ do Copom; entenda

Unsplash
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São Paulo, 6/8/2024 – Os vértices da curva de juros avançam até 23 pontos-base na sessão desta terça-feira na B3, mas com maior pressão na cauda curta, com investidores reagindo à ata de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada mais cedo, que mostrou disposição unânime da autarquia em elevar a taxa básica de juro caso necessário, um recado visto como mais ´hawkish´, ou seja, mais agressivo no combate à inflação.   

O movimento no mercado de futuros de DI, maneira mais usual de se investir em juros, é conhecido como achatamento da curva, ou “bear flattening”, e ocorre basicamente quando os vértices curtos da curva de juros avançam em ritmo mais rápido do que os vencimentos longos. Isso pode ser explicado por investidores projetando que o Banco Central lançaria mão de uma alta dos juros no curto prazo.  

Dado que os yields de curto prazo avançam em ritmo mais rápido que os de longo prazo, a curva converge, resultando em um achatamento, como na sessão de hoje, que evidenciaria como o mercado começa a consolidar apostas em um aumento de juros pelo BC na próxima reunião do Copom, em setembro.  

Contratos de juros DI com vencimento em janeiro de 2026 subiam até 27 pontos-base, a 11,47% por volta das 14h30, enquanto os contratos com vencimento em janeiro de 2033 – na cauda longa – subiam 9,0 pontos-base, a 11,86%, em quadro de “bear flattening”, com uma alta de 25 pontos-base na reunião de setembro embutida na curva de juros.  

O tom duro da ata do Copom foi reforçado pela unanimidade do colegiado nas posições, após preocupações anteriores de que diretores nomeados no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudessem ser mais “dovish”, apresentando eventual comportamento mais leniente com a inflação, que em última instância poderia resultar em uma desancoragem contínua das expectativas inflacionárias.  

Em tradicional publicação na rede social “X” após a ata do Copom, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o documento de hoje “é um tapa na cara do país” porque “ameaça aumentar” a Selic, que nas últimas duas reuniões foi mantida em 10,5% ao ano.  

 

ENTENDENDO A CURVA

O que está ocorrendo hoje no mercado é um bear flattening. A ata do Copom veio mais dura, com indicação de alta de juros se apropriado, o que fez aumentar precificação de aperto monetário pelo Copom no curto prazo. O Copom também mostrou preocupação com desancoragem inflacionária e câmbio – pontos estes abarcados nos vértices longos da curva – que avançam em ritmo mais modesto.

Conheça, abaixo, outros formatos da curva de juros futuros e suas implicações e significados.  

 

Bull Flattening – Ocorre basicamente quando os vértices longos da curva de juros recuam em ritmo mais rápido do que os vértices curtos da curva de juros. Isso pode ser explicado por investidores projetando que o Banco Central lançaria mão de uma queda dos juros, que seria em tese altista (“bull”) para os mercados acionários e para a economia local. Dado que os yields de longo prazo recuam em ritmo mais rápido aos de curto prazo, a curva também converge, resultando em um achatamento.  

  

Bear Steepening – Ocorre basicamente quando os vértices longos da curva de juros avançam em ritmo mais rápido do que os vértices curtos da curva de juros. Isso pode ser explicado por fatores como: desancoragem das expectativas inflacionárias pelos investidores, o que, em última instância, poderia resultar em uma alta de juros pelo Banco Central, baixista para os mercados acionários e para a economia local (“bear”).  

  

Bull Steepening – Ocorre basicamente quando os vértices curtos da curva de juros recuam de forma mais rápida que os vértices longos da curva de juros. Isso ocorre, na visão dos agentes, por projeções de que o banco central irá reduzir os juros, tornando o cenário positivo para os mercados acionários e para a economia local (bull).  

 

As variáveis macroeconômicas possuem diferente influência sobre a curva de juros, a depender dos vértices abarcados. Na ponta curta, os juros futuros são influenciados pelas ações de política monetária – alta ou queda – do juro. Já os vértices longos da curva têm influência de uma série de variáveis, como inflação, oferta e demanda por parte dos investidores, crescimento econômico, etc.  

COPOM VÊ DESAFIOS

Na ata de hoje, o Copom também avaliou que o cenário, marcado por projeções mais elevadas e mais riscos para a alta da inflação, é desafiador. Todos membros do colegiado concordaram haver mais riscos para cima na inflação, com vários deles enfatizando a assimetria do balanço de riscos. Ainda assim, o balanço de riscos do Copom manteve-se simétrico na decisão da semana anterior, de acordo com seu mais recente comunicado.  

 O Copom sinalizou, na ata, que movimentos recentes de alguns dos condicionantes para dinâmica da inflação, tais como as expectativas de inflação e a taxa de câmbio, foram amplamente debatidos. “Observou-se que, se tais movimentos se mostrarem persistentes, os impactos inflacionários decorrentes podem ser relevantes e serão devidamente incorporados pelo Comitê.” 

 De acordo com o Itaú, se o real permanecer no patamar atual e o câmbio não reagir, um ciclo de alta de juros, começando em setembro, “será inevitável”. Porém, os analistas acreditam que o real deve se fortalecer ao longo das próximas semanas, à medida que os mercados globais se acalmarem, mantendo previsão de que a Selic continuará em 10,50% ao ano. 

 O Copom também reforçou, na ata desta terça, que o cenário externo se mantém adverso, com a menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países exigindo cautela por parte das economias emergentes. Também na leitura do comitê, no caso da economia norte-americana, as incertezas quanto ao ritmo de atividade econômica persistem.  

 O comitê do BC reiterou, ainda, não haver relação mecânica entre a determinação da Selic e a condução da política monetária pelo Federal Reserve, banco central americano. Segundo Silvio Campos Neto, economista sênior da Tendências Consultoria, um alívio monetário pelo Fed não deve auxiliar na retomada de cortes à nível local se o câmbio não melhorar.  

 

(LB + GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)