Por: Márcio Aith
O atual ditador da Venezuela, Nicolas Maduro, há nove anos no poder, puxou de seu antecessor, o finado e também ditador Hugo Chávez, a arte de produzir barulho com ameaças, intimidações, bravatas, coações, constrangimento e demais sinônimos que vierem à mente. Puxou também uma grande capacidade de inventar inimigos externos para praticar barbaridades internas.
No começo do mês, Maduro anunciou ao mundo que anexaria, à força, dois terços do território da vizinha Guiana, uma área chamada Essequibo, rica em petróleo, reivindicada sem sucesso pela Venezuela em tribunais internacionais há pouco mais de um século.
Maduro anunciou a anexação aos próprios venezuelanos, num evento público teatralizado nos detalhes. O presidente anunciou um referendo para saber se os venezuelanos o apoiavam, mostrou um desenho (distribuídos a todas as escolas do país) de como ficariam as fronteiras ampliadas da Venezuela após a invasão, explicou a “nova” divisão administrativa de Essequibo e deu prazo para que as petrolíferas que lá operam sob concessão da Guiana retirassem seus equipamentos. No referendo, como era de imaginar para os padrões venezuelanos, 95% apoiaram Maduro.
Eis que, nesta quinta-feira (14), Maduro e o presidente da Guiana Mohammed Irfaan Ali, encontraram-se, apertaram as mãos e estabeleceram um acordo. Os dois governos concordaram em não usar a força na controvérsia sobre Essequibo – uma piada, pois a ameaça vinha apenas de Maduro. Mais: Maduro disse que a Venezuela vai manter apenas campanhas pacíficas para reivindicar o suposto direito dos venezuelanos a Essequibo.
A crise, portanto, murchou.
Por que Maduro partiu da guerra para a paz em pouco mais de dez dias?
Tudo indica que tratou-se apenas de uma campanha de marketing interno para fortalecer o nome do ditador nas eleições presidenciais venezuelanas de 2024. O pleito deve ser realizado no segundo semestre de 2024 e contará com missões de observação da União Europeia, do Centro Carter e da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ameaças de guerra, referendos absurdos e campanhas nacionalistas, como as feitas por Maduro, mantêm mobilizada a opinião pública em torno do nome do ditador.
Afinal, quando chegar o dia das eleições, os venezuelanos se lembrarão “daquele que lutou por Essequibo.”