Por Bruno Andrade
“Vou defender o meu relatório, mas não farei um cavalo de batalha se os líderes decidirem que vão manter uma ou mais mudanças feitas pelo Senado“, disse o relator do Arcabouço Fiscal, Cláudio Cajado (PP-BA), em entrevista à CNN Brasil nesta quinta-feira (17).
A fala acontece em meio às negociações da Câmara dos Deputados sobre o texto aprovado pelo Senado. O relatório inicial de Cajado limitava o crescimento dos gastos do governo entre 0,6% e 2,5% da arrecadação, além da correção inflacionária. Cajado colocou todos os setores dentro desse limitador de gastos.
Já a proposta aprovada pelo Senado retirou alguns setores desse limite de crescimento de gastos, como o setor de ciência e tecnologia. No entanto, a saúde foi mantida dentro do limitador de gastos, o que foi fortemente criticado por Cajado.
“A ciência e tecnologia é mais importante do que a saúde? Eu tinha colocado todos como gasto. Eu optei pela isonomia entre os setores, porque quando você cria excludentes, você começa a deixar de lado o compromisso com a responsabilidade fiscal”, explicou o deputado.
Cajado comentou que houve um adiamento da votação do Arcabouço por causa das negociações entre os líderes, mas o deputado afirmou que espera votar a proposta entre terça-feira e quarta-feira da próxima semana.
“Realmente nós tivemos um adiamento da votação, os líderes decidiram deixar para semana que vem. Vamos votar na terça-feira ou na quarta-feira”, detalhou.
Rusga com Haddad está superada
Questionado por jornalistas se o adiamento teria alguma coisa a ver com a rusga entre o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Cajado disse que não e minimizou o impacto das falas do petista ao dizer que isso é algo já “superado”.
“O ministro Haddad tem enorme crédito com a Câmara dos Deputados, com vários líderes e o próprio presidente Lira. Tudo que tem a ver com a melhoria do ambiente de negócios do Brasil, diminuir a inflação, diminuir os juros, a Câmara tem um protagonismo muito intenso e vai continuar trabalhando nisso”, comentou Cajado.
Na última segunda-feira (14), Haddad fez duras críticas feitas ao presidente da Câmara em entrevista ao podcast do jornalista Reinaldo Azevedo.
Na entrevista, Haddad havia dito que troca farpas com Lira em “debates acalorados” e que o presidente da Câmara tem provocado “percalços” na articulação do governo. Além disso, o responsável pela equipe econômica argumentou que a Câmara está perto de humilhar o Senado e a Presidência da República durante as votações de projetos considerados prioritários para o governo, nos quais são necessários a liberação de bilhões de reais em emendas para fazer as propostas passarem.
“Não pensa você que está fácil. A Câmara está com um poder muito grande, e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo”, disse Haddad.
Segundo o ministro, o Brasil vive uma “coisa estranhíssima que é um parlamentarismo sem primeiro-ministro”. Ele questionou o montante de R$ 40 bilhões em emendas destinadas aos parlamentares, “[equivalente] a 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto). Onde no mundo tem isso”?, comentou.
Após as falas desastrosas, Haddad telefonou ao presidente da Câmara para “esclarecer” suas declarações. “Minhas declarações não são uma crítica à atual Legislatura”, disse o ministro em entrevista a jornalistas na porta do Ministério da Fazenda.
O ministro afirmou que tem compartilhado com o Congresso o sucesso das medidas econômicas aprovadas no primeiro semestre, e garantiu que a recepção de Lira a seu esclarecimento foi “excelente”.
(Com Reuters)