Por Erick Matheus Nery
Em abril de 2011, os brasileiros ficaram horrorizados com o massacre na Escola Municipal Tasso de Silveira, em Realengo (RJ). Doze anos se passaram e a violência nas instituições de ensino, que parecia ser algo “restrito” aos Estados Unidos, tornou-se cada vez mais presente em território nacional. E de olho neste debate, a HBO e a HBO Max lançam neste domingo (9) a série documental Massacre na Escola – A Tragédia das Meninas de Realengo.
Ao Faria Lima Journal (FLJ), a produtora e diretora da produção, Bianca Lenti, explica que o projeto começou a ser desenvolvido em 2019 e analisa essa tragédia por meio de um outro olhar, o de um feminicídio em massa – dos doze mortos no massacre, dez eram meninas.
“Durante a produção, o que surpreendeu toda a equipe foi a participação muito ativa de fóruns ocultos na internet, onde o discurso de ódio é liberado, principalmente, o ódio direcionado para as mulheres. Acredito que o mais chocante para toda a equipe foi entrar em contato com o teor de crueldade e de ódio mesmo, a violência dessas postagens, que são disseminadas porque os algoritmos engajam”, comenta Lenti.
Em quatro episódios, a produção acompanha o antes e o depois das vítimas e seus familiares e se aprofunda no universo dos grupos de ódio nas redes sociais, onde são compartilhados discursos extremistas, principalmente os de misoginia. Segundo a diretora:
São justamente nesses fóruns que, em geral, meninos são cooptados como atiradores e viram soldados para colocar, em prática, coisas que ganham influência nos games e partem para a vida real.
“O que mais choca é a premissa inicial do documentário de abordar Realengo como um feminicídio em massa. Na época, talvez esse detalhe tenha acabado passando. Mas hoje, sendo um conceito presente no debate social, falar de feminicídio em massa acaba sendo um diferencial, uma novidade, algo irrefutável”, complementa Patricio Díaz, gerente sênior de conteúdo de produções de não-ficção da Warner Bros Discovery Brasil.
True crime?
Nos streamings, conteúdos que aprofundam debates sobre crimes reais ganham cada vez mais sucesso e relevância – um desses exemplos é a série Pacto Brutal (2022), da própria HBO Max, que mostrou detalhes do assassinato de Daniella Perez (1970 – 1992) e converteu-se em uma das produções mais vistas da plataforma no ano passado.
Questionado pelo FLJ, Díaz afirma que não enxerga a nova produção da plataforma nos moldes típicos de uma produção de true crime. “Entendemos como uma série documental necessária, muito importante e com um assunto muito urgente, o qual esperamos que traga um impacto no debate social”.
“Nossa ideia é que a produção justamente contribua para esse debate, que seja um serviço e não uma espetacularização de um crime que aconteceu doze anos atrás. Infelizmente, o discurso de ódio só piorou, as mulheres continuam morrendo mais, o feminicídio é uma realidade”, ressalta Lenti.
Massacre na Escola – A Tragédia das Meninas de Realengo estreia no domingo na HBO Max e na HBO, às 22h. Confira o trailer: