Por: Luciano Costa e Machado da Costa
O geólogo Mario Carminatti, que atuou na descoberta do pré-sal, teve sua indicação para a diretoria de Exploração e Produção da Petrobras vetada pelo governo, devido a uma visão de que estaria “desalinhado” em relação à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, disseram ao Scoop três fontes com conhecimento do assunto.
A Petrobras divulgou ontem cinco novos diretores-executivos: Cláudio Schlosser, de Comercialização e Logística; Carlos Travassos, para Desenvolvimento da Produção; Joelson Falcão Mendes, para Exploração e Produção; William França, em Refino e Gás Natural; e Carlos Barreto, em Transformação Digital e Inovação.
Em 27 de janeiro, o Scoop antecipou os nomes de Schlosser e Mendes, mas este último, antes cotado para Desenvolvimento da Produção, foi alocado em E&P depois de “muita resistência” de alas políticas e técnicas à indicação de Carminatti, disseram as fontes, que pediram anonimato devido à sensibilidade do tema.
Os novos diretores têm perfil “técnico”, todos “profissionais de carreira e trajetória de alta gestão na Petrobras”, e Carminatti também era visto como “técnico e competente” – afinal, foi o responsável por finalizar os estudos sobre o potencial exploratório do pré-sal em 2009.
Porém, ele tinha fama de “bolsonarista demais” nos bastidores da estatal, disse uma fonte. “Ele estava desalinhado com o governo, e isso ficou patente”, disse uma segunda fonte.
O veto a Carminatti evidencia a disputa política travada nos bastidores por cargos ligados ao Ministério de Minas e Energia, com o PT e legendas de esquerda buscando barrar nomes vistos como próximos dos ex-presidentes Jair Bolsonaro (PL) e Michel Temer (MDB).
A guerra por indicações deixa a pasta sem equipe – ainda não houve nomeação de secretários, por resistências às escolhas iniciais do ministro do MME Alexandre Silveira (PSD), como Bruno Eustáquio, que seria secretário-executivo. Fontes ouvidas pelo Scoop relataram que o atraso em nomeações já atrapalha a dinâmica do setor, com investidores reclamando da dificuldade para tratar temas de interesse com o novo governo.
Dentre os nomes escolhidos para a Petrobras, Mendes Falcão é “competente e bem reconhecido” na empresa, mas mesmo sendo visto como “de esquerda”, não tem muita proximidade com os sindicatos, segundo uma das fontes.
França, que liderará a área de Refino, vital para a companhia, é apontado como “o mais político” dos nomes, pois “dialoga com todo mundo”, ainda segundo essa fonte, que avalia que as escolhas tiveram boa influência dos funcionários mais antigos e sindicatos. “Diria que a corporação emplacou esses nomes, negociados com o novo governo”.
Ainda faltam ser anunciados diretores incluindo o chefe da área financeira, e há especulações sobre a possível criação de uma nova diretoria, focada em transição energética, para o qual é cotado Mauricio Tolmasquim, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética.