Sigma Lithium estreia BDRs na B3 com aposta em "lítio verde" e plano para dobrar produção

Empresa tem operações no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais

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Por Arthur Horta

A produtora brasileira de lítio Sigma Lithium, listada na bolsa de Toronto e na Nasdaq, comemorou hoje o lançamento de recibos de ações na B3, possibilitando a entrada de investidores domésticos em sua base de acionistas. A companhia tem um plano de expansão que prevê mais que dobrar a produção até o próximo ano.

Com operações no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, a companhia tem produzido a um ritmo atual de 130 mil toneladas mensais, que deve crescer para 270 mil toneladas em 2024, com três linhas produtivas ativas, disse à Mover a CEO da empresa, Ana Cabral.

Utilizado em baterias elétricas, o lítio tem se tornado um metal cobiçado por investidores e empresas de todo o mundo devido às tendências de transição energética. Na região de atuação da Sigma, o metal é extraído de rochas, o que é menos agressivo do ponto de vista ambiental do que em salares, como no caso da Bolívia e Chile, e pode ser produzido com uso de fontes de energia renovável.

“Só sai lítio verde do Brasil, e ninguém quer colocar um lítio marrom em um carro verde”, disse Cabral à Mover, ao definir o produto da Sigma como “triple zero”: sem carbono, rejeitos ou químicos. Ela falou em cerimônia de listagem dos chamados BDRs da empresa na B3, que serão negociados sob o código S2GM34.

Os investimentos em expansão da Sigma, que pretende colocar de pé mais duas linhas de produção nos próximos 12 meses, serão financiados apenas com o lucro operacional – algo possível pela eficiência em custos e pela rentabilização de rejeitos de mineração, que devem ser vendidos acima do custo caixa (C1) da companhia, explicou a CEO.

Os rejeitos ultrafinos, sem produtos químicos e empilhados a seco, também podem ser utilizados na produção de baterias de veículos elétricos, tal qual o lítio, um aproveitamento que torna ainda mais competitiva a operação da empresa, que já está no primeiro quartil dentre os produtores de menor custo que extraem o lítio de rochas.

“Estudos de viabilidade indicam que nosso custo-caixa de produção é de US$300 por tonelada, enquanto a venda do rejeito pode ser feita a US$310 por tonelada”, disse Cabral.

A companhia também está em vias de deixar a fase pré-operacional, com o embarque da primeira remessa de vendas de lítio pré-químico premium e rejeito verde para a China, agendada para quinta-feira.

VALE DE LÍTIO

O Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres de Minas Gerais e onde opera a Sigma Lithium, entrou no radar de diversas mineradoras e investidores. Apelidado de Vale do Lítio, o local deve atrair mais de R$20 bilhões em investimentos até 2030, segundo projeções da Federação das Indústrias do Estados de Minas Gerais (FIEMG).

Somente nesta semana, a australiana Perpetual Resources fechou acordo por direitos de 3.643 hectares em áreas na região mineira; a Lithium Ionic assinou protocolo de intenções para investir R$750 milhões; e a Atlas Lithium recebeu um aporte de US$10 milhões para crescer na região.

Esses investimentos devem ajudar o Brasil a conquistar uma posição entre os três principais produtores do lítio do mundo e integrar o país à agenda global de eletrificação e descarbonização.

“Cerca de 70 empresas estão prospectando no Vale do Jequitinhonha. O desafio é criar um arcabouço que acelere processos de licenciamento e infraestrutura na região, mas a leitura é que isso vai avançar”, disse à Mover o presidente da FIEMG, Flávio Roscoe.

No acumulado de 2023, as ações da Sigma Lithium sobem 46% na Nasdaq. Com os BDRs, lançados quatro anos após a oferta inicial de ações no exterior, investidores brasileiros poderão apostar na companhia sem necessidade de abrir conta fora do país.

Também começaram a ser negociados na B3 nesta semana os BDRs da Pátria Investimentos, gestora de investimentos alternativos, e da Afya Educacional, de educação e soluções digitais para médicos.