Reforma tributária: 20 deputados do PL não obedeceram Bolsonaro

Debandada acontece um dia após Tarcísio brigar com Bolsonaro

Agência Brasil
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Por Bruno Andrade

A reforma tributária foi aprovada na Câmara dos Deputados na madrugada desta sexta-feira (07). O placar ficou em 382 votos favoráveis e 118 contrários no primeiro turno e 375 a 113 e três abstenções no segundo turno.

As três abstenções do segundo turno vieram da banca do PSOL, os votos foram de Fernanda Melchionna, Glauber Braga e Sâmia Bomfim. Já a bancada do PL teve 20 votos sim e 75 não no primeiro turno. No segundo turno, o placar ficou em 18 votos favoráveis e 74 contrários. A diminuição do quórum explica a diferença.

No primeiro turno, por ordem alfabética, os deputados do PL Antonio Carlos Rodrigues (SP), Detinha (MA), Giacobo (PR), Icaro de Valmir (SE), João Carlos Bacelar (BA), João Maia (RN), Josimar Maranhãozinho (MA), Junior Lourenço (MA), Júnior Mano (CE), Luciano Vieira (RJ), Luiz Carlos Motta (SP), Matheus Noronha (CE), Robinson Faria (RN), Rosângela Reis (MG), Samuel Viana (MG), Tiririca (SP), Vermelho (PR), Vinicius Gurgel (AP), Wellington Roberto (PB) e Zé Vitor (MG) votaram a favor da proposta.

No segundo turno, a votação exceção ficou por conta de João Carlos Bacelar (BA) e Junior Lourenço (MA), que não votaram no segundo turno. Na véspera, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi hostilizado ao defender em reunião do PL apoio à reforma tributária. Ainda ouviu do ex-presidente, seu mentor político, Jair Bolsonaro, que ele não tem experiência política.

O governador foi interrompido várias vezes em seu discurso. O político foi vaiado e teve que sair do evento antes antes da hora prevista, disseram fontes ao Faria Lima Journal (FLJ).

O episódio tem enorme relevância política. No curto prazo, Tarcísio projeta à opinião pública uma áurea de responsabilidade e lisura ao apoiar uma reforma vista como favorável ao país. Com isso, sua imagem migra da extrema direita política para o centro democrático. Isso o distancia de Bolsonaro e transforma Tarcísio em herdeiro de Bolsonaro e um político viável eleitoralmente para as eleições em 2026.

Imagens gravadas mostram Tarcísio sendo interrompido ao fazer um discurso em defesa da reforma que, no seu entender, não seria de governo, mas do Estado brasileiro. O encontro com dirigentes e parlamentares do PL ocorreu a portas fechadas na sede do partido, em Brasília.

O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) e outros parlamentares da ala bolsonarista da legenda insinuaram que Tarcísio é um “traidor” por divergir de Bolsonaro tendo sido alçado ao governo de São Paulo pelo ex-presidente. O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, teve dificuldades para garantir a fala dele.

Em outro momento, foi o próprio Bolsonaro quem constrangeu o governador paulista, segundo duas dessas fontes. Diante de Tarcísio, o ex-presidente afirmou que ele não tem experiência política e atacou o que o chamou de reforma tributária “do PT”.

O governador de São Paulo, que governa o Estado de maior economia do país e tem sido um dos principais defensores da reforma, deixou o encontro escoltado e foi se reunir com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que trabalha para garantir a votação da PEC da reforma em primeiro turno na noite desta quinta, e precisa de votos do PL.

Assessores de Tarcísio procuraram diminuir a importância do episódio. Disseram ao Faria Lima Journal que divergências são normais, principalmente em assuntos complexos como a reforma tributária, que historicamente não tem tido consenso, como é o caso da reforma tributária.

O encontro foi convocado por Valdemar para tentar fechar uma posição do PL, partido com a maior bancada da Câmara, 99 deputados, sobre a reforma tributária, entre outros assuntos.