Proposta de Lula para taxar rendimentos no exterior preocupa mercado

Veja a abertura dos mercados globais

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Por Patricia Lara

A semana começa no mercado local com repercussões à compra dos ativos do First Republic pelo JPMorgan ontem, o que reforçou a expectativa de que a taxa de juros nos Estados Unidos deve ter mais uma alta de 0,25 ponto percentual no encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) amanhã. O Banco Central brasileiro também decide o nível da Selic nesta quarta-feira, que deve seguir mantida em 13,75%. O ajuste dos ativos ainda será movido pelo pacote tributário anunciado pelo governo brasileiro no domingo, que inclui a inesperada taxação de rendimentos no exterior de pessoas físicas residentes no Brasil, a partir de 2024.

A tributação foi incluída na Medida Provisória 1.171, publicada em edição extraordinária do Diário Oficial da União no domingo, que alterou a tabela do Imposto de Renda Pessoa Física, elevando a faixa de isenção para dois salários-mínimos (R$ 2.640), conforme havia sido anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no próprio domingo, véspera das comemorações do Dia do Trabalhador.

O Ministério da Fazenda disse ontem que a tributação dos rendimentos no exterior deve gerar uma arrecadação potencial de R$3,25 bilhões em 2023, R$3,59 bilhões no próximo ano e reforçar o caixa em R$6,75 bilhões em 2025. Já a perda de arrecadação com a medida que elevou a faixa de isenção do IRPF foi calculada em de R$3,20 bilhões em 2023, R$5,88 bilhões em 2024 e R$6,27 bilhões em 2025.

Com a reação aos desdobramentos externos e às medidas tributárias, o mercado local ainda assimila o rumo das bolsas no exterior nesta manhã, com a maioria dos índices europeus e os futuros americanos pressionados antes da decisão do FOMC. Os derivativos apontam 97,4% de chance de a taxa de juros americana subir para a faixa de 5% a 5,25% amanhã.

Embalado pela expectativa de nova alta da taxa básica, o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante principais divisas pares, subia 0,11%, a 112,26 pontos, ao redor das 7h00. Os rendimentos dos títulos da dívida dos Estados Unidos de 1 ano avançavam 4,6 pontos-base, a 4,922%. O mercado acompanha ainda o debate sobre o teto da dívida pública americana e a declaração da secretária do Tesouro do país, Janet Yellen, que disse em carta ao Congresso que há risco de os Estados Unidos ficarem sem recursos já em 1 de junho.

Enquanto as decisões sobre juros nos EUA e no Brasil são aguardadas, o Banco da Reserva, que é o BC da Austrália, surpreendeu com elevação da taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 3,85%, desafiando a expectativa dos analistas de manutenção da taxa no atual patamar. A inflação ao consumidor no país atingiu seu pico, mas ainda roda em 7%, um nível muito alto, enquanto levará tempo até voltar à faixa da meta, disse o presidente do BC australiano, Philip Lowe.

A inflação também segue atormentando a Zona do Euro. Os preços ao consumidor da região aceleraram pela primeira vez em seis meses para uma variação anual de 7% em abril, acima dos 6,9% esperados pelo consenso de projeções da Reuters.

No mercado de commodities, dados fracos de atividade da China minam a expectativa de retomada da economia asiática. A atividade manufatureira inesperadamente caiu em abril, segundo informações divulgadas no último domingo. O índice oficial de gerentes de compras (PMI) da manufatura caiu para 49,2 pontos no mês passado, frente aos 51,9 pontos registrados em março, segundo dados do Escritório Nacional de Estatísticas, portanto, abaixo da marca de 50 pontos que separa expansão e contração na atividade. O preço do barril de petróleo Brent cedia 0,43%, a US$78,97, nesta manhã. Já o minério de ferro está sem referência na Bolsa de Dalian devido a um feriado na China.

A agenda doméstica do dia traz a divulgação da pesquisa Focus, com projeções para as principais variáveis econômicas, às 8h25, e dados da balança comercial de abril, às 15h00. Nos EUA, sai número de abertura de vagas medido pelo relatório JOLTS e encomendas às fábricas em março, ambos às 11h00.

O presidente Lula deve se reunir com o seu congênere da Argentina, Alberto Fernández, às 17h00. O governo federal deve propor uma linha de crédito para a Argentina comprar produtos brasileiros, segundo o jornal O Globo.

DESTAQUES

O Ministério da Fazenda disse nesta segunda-feira que a Medida Provisória que tributa rendimentos no exterior de pessoas físicas residentes no Brasil representa uma iniciativa que se alinha a regras já praticadas em outros países, incluindo na Alemanha e na China. A MP instituiu ainda regra anti-diferimento de rendimento de pessoa física por meio de controladas no exterior e introduz novas regras para tributação de trusts. Para a Fazenda, a MP soluciona o fato de haver mais de US$1 trilhão de ativos de pessoas físicas no exterior que não pagavam praticamente nada de imposto. (Mover)

O presidente Lula anunciou, em fala no domingo, o aumento do valor do salário mínimo, que passará dos atuais R$1.302 para R$1.320. O novo valor entrou em vigor ontem. Segundo o presidente, essa é a maior valorização do salário mínimo em seis anos e a meta é que a referência de remuneração oficial do trabalhador brasileiro seja reajustada acima da inflação. (Mover)

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou em carta ontem que novos dados sobre receitas fiscais levaram o Tesouro a antecipar as estimativas de até quando o Tesouro será capaz de continuar a cumprir todas as obrigações do governo para 1 de junho. Ela pediu ao presidente da Câmara, Kevin McCarthy, que elevasse o teto da dívida antes dessa data. (CNBC)

O JPMorgan Chase & Co foi o grande vencedor de um leilão pelo First Republic Bank na segunda-feira, após um intenso fluxo de saída de recursos penalizar instituições regionais, como o Silicon Valley Bank. Investidores ampliaram a venda dos papéis do banco na semana passada, após a instituição reportar mais de US$100 bilhões em retiradas no primeiro trimestre. Menos de uma semana depois, reguladores da Califórnia confiscaram o FRC e o colocaram em liquidação judicial. (Reuters)

Com a aquisição do FRC, o JPMorgan pagará US$10,6 bilhões ao Federal Deposit Insurance Corp como parte de um acordo para deter controle sobre a maior parte dos ativos do banco regional, além de obter acesso à base de clientes do banco. “O governo dos EUA e outros nos convidaram para assumi-lo, e assim fizemos”, afirmou Jamie Dimon, CEO do JP, em conferência com analistas. Com a aquisição, o JP já detém controle de mais de 10% de todos os depósitos de bancos nos EUA. (CNBC)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ligou para o presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, em Jerusalém, assim como o líder democrata da Câmara Hakeem Jeffries, o líder da maioria no Senado Chuck Schumer, e o líder republicano Mitch McConnell, e os convidou para uma reunião em 9 de maio para falar sobre o teto da dívida e os gastos federais, segundo fontes. (Reuters)

A Light negocia uma revisão extraordinária na tarifa como saída para aliviar a crise, segundo coluna. A concessionária se reuniu com reguladores para debater a situação financeira. (O Estado de S. Paulo)