Por: Artur Horta
Somente em outubro, os pedidos de recuperação judicial (RJ) no Brasil atingiram 162, no maior patamar desde julho de 2019, e uma alta de 51,4% na base anual, segundo o Indicador de Falências e Recuperação Judicial da Serasa Experian divulgado nesta quarta-feira.
Até outubro, o Serasa Experian contabilizou 1.128 pedidos de RJ, mais do que os 833 registrados em todo o ano de 2022, e quase no nível dos 1.179 pedidos de 2020, no auge da pandemia de Covid-19.
Os dados podem apontar para um cenário catastrófico, bem além do endividamento das empresas isoladamente, na avaliação do CEO da butique especializada em reestruturação Excellance, Max Mustrangi.
“Nos últimos nove trimestres, a somatória dos resultados das empresas vem piorando, destruindo valor”, disse o executivo em entrevista à Mover.
Em diversos setores, sobretudo os voltados ao cenário doméstico – como varejo e indústria de bens de consumo –, as companhias têm vivido uma “guerra insana e insalubre de preços”, disse Mustrangi. Segundo ele, a estratégia de praticar o menor preço possível para disputar clientes e vender mercadorias impacta de forma relevante a rentabilidade e torna as margens de lucro mínimas, ou até mesmo negativas. “Quem está crescendo em faturamento é sem margem e com muita alavancagem”, acrescentou.
Isso pode ser constatado na deterioração dos resultados financeiros, no aumento dos pedidos de recuperação judicial e, principalmente, nos dados de queda de arrecadação do governo. O indicador, considerado por especialistas como um antecedente para o ritmo da economia, vem caindo mensalmente desde julho.
Ainda assim, Mustrangi entende que este não é cenário descrito pela “Faria Lima”, onde os grandes bancos e gestores tentam passar a impressão de que a situação pode melhorar.“Se você olhar o balanço dos grandes bancos, a inadimplência diminuiu, mas isso aconteceu porque eles foram mais diligentes na concessão de crédito e diminuíram a porta para quem poderiam emprestar. E o caminho da RJ ou da falência é o que segue para as empresas que ficaram de fora, para as que não conseguiram tomar crédito”, exemplificou.
De fato, os dados divulgados pelo Serasa Experian hoje mostram que as micro e pequenas empresas – as mais distantes da Faria Lima – lideram os pedidos de RJ , seguido pelas médias e, por fim, as grandes companhias.
Segundo Mustrangi, os desafios de endividamento, a falta de crédito e as incertezas nos mercados globais moldam um cenário preocupante não só para as corporações, mas para a economia como um todo, que pode acabar em uma severa recessão.
(AH | Edição: Gabriela Guedes | Comentários: equipemover@tc.com.br)