Payroll de março deve mostrar esfriamento do mercado de trabalho

O dado pode apontar que o ciclo de aperto monetário praticado pelo Fed já produz efeitos sobre a busca por mão de obra

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Por: Gabriel Ponte

A geração de empregos nos Estados Unidos deve ter desacelerado em março, indicando que o mercado de trabalho estava esfriando mesmo antes da recente turbulência bancária que culminou com a falência de dois bancos regionais. O dado pode apontar que o ciclo de aperto monetário praticado pelo Federal Reserve, o Banco Central americano, já produz efeitos sobre a busca por mão de obra.

O relatório formal de empregos nos EUA, conhecido como Payroll, deve mostrar criação líquida de 239 mil postos de trabalho em março, segundo o consenso Mover, ante 311 mil vagas abertas em fevereiro. O dado será divulgado nesta sexta-feira, às 9h30. Desde abril de 2022, a geração de empregos vem superando o consenso de analistas, de acordo com a Refinitiv, indicando a resiliência da economia americana.

Apesar disso, recentes dados econômicos aumentaram a aversão ao risco dos investidores, ao reforçarem a leitura de que o país pode estar enfrentando um cenário de desaceleração. O setor privado dos EUA criou 145 mil empregos em março, de acordo com a ADP, e abaixo do consenso Mover, que previa abertura de 200 mil postos no período.

Os números endossam a tese de que o aperto monetário pelo Fed pode estar começando a pesar sobre o mercado de trabalho, e que as demissões em massa, antes concentradas em empresas de tecnologia, agora estão se propagando para outros setores. A turbulência bancária observada em março pode também afetar as contratações, caso um cenário de crédito mais apertado leve as empresas a interromperem planos de expansão.

Para a Capital Economics, a geração líquida de empregos deve ser ainda menor, de 200 mil no período, diante de sinais de esfriamento do mercado de trabalho. Os analistas da instituição entendem também que os custos da folha de pagamento, em termos anuais, devem desacelerar para perto da mínima em dois anos.

O consenso Mover aponta que os custos da folha de pagamento devem desacelerar na base anual a 4,3%, ante 4,6% em fevereiro. Caso confirmado, seria o menor nível de crescimento desde agosto de 2021, de acordo com a Refinitiv. Na base mensal, por outro lado, os salários devem subir 0,3%, ante 0,2% em fevereiro. A taxa de desemprego deve se manter em 3,60%, diante de um maior ingresso de trabalhadores no mercado de trabalho. O número de horas trabalhadas semanais deve se manter em 34,5.

A divulgação dos dados desta sexta-feira integra um conjunto de números estratégicos a serem reportados antes da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) de maio. Autoridades do Fed já descartaram antever se o Fed precisará elevar os juros no próximo mês antes da divulgação dos dados. A próxima reunião do FOMC ocorrerá nos dias 3 e 4 de maio.

No mês passado, o Fed elevou a taxa-alvo Fed Funds em 25 pontos-base, para o intervalo entre 4,75% e 5,0%, mas indicou estar próximo do nível terminal, depois que problemas envolvendo o setor bancário nos EUA aumentaram os temores de um aperto adicional nas condições financeiras.

A divulgação dos números do Payroll ocorrerá normalmente nesta Sexta-feira Santa por não ser considerada um feriado nacional nos EUA. Os mercados acionários, por outro lado, estarão fechados. Entretanto, até quarta-feira, a principal associação comercial para os mercados de capitais nos EUA recomendou um fechamento parcial e não total dos mercados para renda fixa e ativos denominados em dólar, a partir das 13h00, para acomodar a reação à divulgação dos dados.