Por Reuters
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e próximo presidente da corte, Luís Roberto Barroso, citou a derrota do bolsonarismo ao mencionar a luta para se “permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas”, o que levou a oposição no Congresso a anunciar nesta quinta-feira que vai pedir o impeachment do magistrado.
A fala de Barroso foi feita em resposta a vaias recebidas durante participação no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), na noite de quarta-feira. No evento, Barroso rebateu críticas de um grupo ligado a profissionais da enfermagem. No ano passado, ele suspendeu, em liminar, a adoção do piso nacional para a categoria, que recentemente foi liberado, sob determinadas condicionantes.
Houve ainda a exibição de uma faixa chamando o ministro de “inimigo da enfermagem e articulador do golpe de 2016”, em referência ao processo que culminou com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
O ministro do STF disse já ter enfrentado a ditadura e o bolsonarismo e que não se preocupava. Ressaltou depois que respeitava as discordâncias, que fazem parte da democracia.
“Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas”, afirmou Barroso, que esteve acompanhado do ministro da Justiça, Flávio Dino, e do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).
Parlamentares da oposição ao governo Lula reagiram à fala do magistrado e anunciaram, em postagens em redes sociais, que vão pedir o impeachment de Barroso ao Senado.
“Isso é normal? Escrachou de vez? Imagine um ministro do STF dizendo numa palestra que eles ‘derrotaram o lulo-petismo’. A oposição entrará com processo de impeachment contra Barroso por cometer crime de ‘exercer atividade político-partidária'”, afirmou o líder da oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ).
Questionada, a assessoria de imprensa do Supremo disse que Barroso, Dino e Orlando participaram do evento para uma “breve intervenção sobre autoritarismo e discursos de ódio”, destacando que todos eles participaram do movimento estudantil na juventude.
“Apesar do divulgado, os três foram muito aplaudidos. As vaias — que fazem parte da democracia — vieram de um pequeno grupo ligado ao Partido Comunista Brasileiro, que faz oposição à atual gestão da UNE”, afirmou a assessoria.
“Como se extrai claramente do contexto da fala do ministro Barroso, a frase ‘Nós derrotamos a ditadura e o bolsonarismo’ referia-se ao voto popular e não à atuação de qualquer instituição”, destacou o órgão.
Advogado constitucionalista de carreira, Barroso foi indicado para o Supremo por Dilma Rousseff em 2013. Antes das eleições gerais do ano passado, ele presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e teve uma série de embates públicos com o então presidente Jair Bolsonaro por críticas infundadas feitas pelo chefe do Executivo à confiança das urnas eletrônicas.
O magistrado, de 65 anos, deve assumir o comando do Supremo entre o final de setembro e início de outubro, a partir da aposentadoria compulsória da atual presidente do tribunal, Rosa Weber, que completará 75 anos.