ONU diz que fome em Gaza é iminente

Fornecimento de ajuda ao enclave foi interrompido

Reuters News Brasil
Reuters News Brasil

Por Reuters

As entregas de ajuda da ONU para Gaza foram suspensas novamente nesta sexta-feira devido à escassez de combustível e à paralisação das comunicações, agravando o sofrimento de milhares de palestinos famintos e desabrigados enquanto as tropas israelenses lutavam contra os militantes do Hamas no enclave.

O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) disse que os civis enfrentam a “possibilidade imediata de fome” por falta de alimentos.

A agência de notícias palestina WAFA disse que vários palestinos morreram e outros ficaram feridos em um ataque israelense que atingiu um grupo de pessoas desalojadas perto da passagem de fronteira de Rafah entre a Faixa de Gaza e o Egito – o ponto de trânsito para ajuda.

Segundo a TV Al Jazeera, fontes disseram que nove pessoas foram mortas no ataque.

Não houve comentário imediato de Israel sobre o ataque relatado e a Reuters não pôde verificá-lo.

Israel afirmou que suas tropas haviam encontrado um túnel usado pelo Hamas no hospital Al Shifa, no norte da Faixa de Gaza.

O hospital, lotado de pacientes e pessoas deslocadas e com dificuldades para continuar funcionando, tornou-se um dos principais focos de preocupação global. Israel diz que o Hamas armazenou armas e munições e mantém reféns em uma rede de túneis sob hospitais como o Shifa, usando pacientes e pessoas que se abrigam lá como escudos humanos. O Hamas nega isso.

Com a guerra prestes a entrar em sua sétima semana, não há nenhum sinal de abrandamento, apesar dos apelos internacionais por um cessar-fogo ou, pelo menos, por pausas humanitárias.

O conflito foi desencadeado por um ataque transfronteiriço realizado por militantes do Hamas em 7 de outubro, que matou cerca de 1.200 israelenses, a maioria civis, no dia mais letal dos 75 anos de história do Estado.

Mais de 11.500 palestinos, dos quais pelo menos 4.700 são crianças, já foram mortos no ataque militar de retaliação de Israel à Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, de acordo com o Ministério da Saúde palestino – um número que supera em muito os conflitos dos últimos anos.

Israel prometeu exterminar o grupo militante. Bairros inteiros de Gaza foram arrasados por ataques aéreos e de artilharia, centenas de milhares de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas e a situação humanitária é catastrófica, segundo as agências de ajuda humanitária.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), citando dados palestinos, afirmou que os ataques israelenses destruíram ou danificaram pelo menos 45% das unidades habitacionais de Gaza.

CAMINHÕES SUSPENSOS

As Nações Unidas disseram que não haveria nenhuma operação de ajuda transfronteiriça na sexta-feira devido à escassez de combustível e à paralisação das comunicações. Pelo segundo dia consecutivo, nenhum caminhão de ajuda chegou a Gaza por falta de combustível para a distribuição de ajuda.

Uma fonte de segurança egípcia disse que três caminhões de combustível estavam prontos para atravessar do Egito para Gaza na sexta-feira, mas uma autoridade de ajuda humanitária dentro do enclave afirmou que não havia confirmação de que mais combustível seria trazido.

Quase toda a população de Gaza está precisando desesperadamente de assistência alimentar, disse a diretora executiva do PMA, Cindy McCain.

“Com o inverno se aproximando, abrigos inseguros e superlotados e a falta de água potável, os civis estão enfrentando a possibilidade imediata de fome”, declarou ela em um comunicado.

Um representante de direitos humanos da ONU disse que Israel precisa permitir a entrada de água e combustível em Gaza para retomar a rede de abastecimento de água.

“Cada hora que passa com Israel impedindo o fornecimento de água potável na Faixa de Gaza, em uma violação descarada do direito internacional, coloca os habitantes de Gaza em risco de morrer de sede e doenças”, disse Pedro Arrojo-Agudo.

A Organização Mundial da Saúde declarou na sexta-feira que estava muito preocupada com a disseminação de doenças em Gaza, citando mais de 70.000 casos registrados de infecções respiratórias agudas e mais de 44.000 casos de diarreia, muito mais do que o esperado.