Mercados ensaiam estabilização antes da inflação nos EUA

No Brasil, a expectativa de redução do patamar de juros globais com o caso SVB fortalece a tese de antecipação de alívio monetário

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Por Patrícia Lara

O mercado externo global tenta uma estabilização enquanto aguarda a divulgação do dado de inflação americana em busca de mais sinais que possam mover as apostas sobre a taxa de juros nos Estados Unidos, após o colapso do Silicon Valley Bank trazer a hipótese, ainda minoritária, de manutenção dos Fed Funds agora em março. Mas os esforços de autoridades americanas para conter os danos do caso ajudam os futuros de Nova York a ensaiarem uma leve alta nesta manhã e há um movimento de venda de ativos mais seguros. No Brasil, a expectativa de redução do patamar de juros globais com o caso SVB fortalece a tese de antecipação de alívio monetário.

O índice de preços ao consumidor de fevereiro nos EUA sai às 9h30 e deve apontar alta de 0,4%, segundo o consenso das projeções, após aumento de 0,5% no mês anterior. O indicador testa a aposta de 21% do mercado de manutenção da taxa de juros americana na faixa atual entre 4,50% e 4,75%, ainda que a expectativa seja de 79% de que o BC americano terá de elevar a taxa de juros em 0,25 ponto porcentual no encontro de 21 e 22 de março. Os dados são da Chicago Mercantile Exchange.

Antes de sair o indicador, o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante divisas pares, sobe, interrompendo uma queda de três dias, impulsionado em grande parte pelo retorno do rendimento dos títulos da dívida dos EUA para patamar acima de 4%.

Na Europa, as incertezas com o setor bancário são reforçadas pelo Credit Suisse. As ações do banco com sede na Suíça chegaram a cair 5% nesta terça-feira, atingindo nova mínima histórica no início das negociações, após a instituição anunciar que encontrou “fraquezas materiais” em seus relatórios financeiros de 2021 e 2022.

No mercado de commodities, a cotação do petróleo Brent prolonga as perdas observadas na véspera, com o contrato para maio em baixa de 1,92%, a US$79,22 o barril, ainda que tenha saído da mínima, já que a apreensão sobre os efeitos das taxas de juros e do colapso de bancos regionais americanos na demanda mantém a pressão vendedora sobre os produtos.

Já os sinais de demanda revigorada na China pelo pico da temporada de construções no país sustentam a cotação do minério de ferro e o contrato para maio chegou a atingir um novo recorde de 936 iuanes durante a sessão de hoje na Bolsa chinesa de Dalian. Mas a cautela com o risco de medidas do governo para conter a alta dos preços limitou o movimento. No fim do dia, o contrato teve queda leve de 0,2%, a 920 iuanes, ou o equivalente a US$134,02 por tonelada.

No Brasil, o pacote de medidas envolvendo os combustíveis apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para melhorar as contas públicas completou duas semanas desde seu anúncio sob o risco de seguir travado no Congresso, diz a Folha. Mesmo assim, a expectativa de alívio monetário antecipado voltou a se intensificar ontem, com alguns vencimentos dos juros futuros cedendo mais de 20 pontos-base.

No Congresso, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado deve votar hoje um requerimento de convite para ouvir o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a taxa de juros, segundo a Agência Senado. Críticas ao patamar da Selic voltaram a ser a tônica do discurso da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Em evento ontem no Rio, ela disse que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, “deveria ter vergonha na cara, pegar o boné e ir embora”.

Campos Neto cumpre agenda de reuniões fechadas hoje com representantes do NYSE Institute, do Claure Group e do Bicycle Capital. O Tesouro promove leilão de Letras Financeiras do Tesouro para 2026 e 2029, com remuneração associada à taxa Selic, e de Notas do Tesouro Nacional – série B, papéis com rentabilidade ligada à inflação, para 2028, 2040 e 2060.

MERCADOS GLOBAIS

O contrato de ouro para entrega em maio cedia 0,55%, a US$1.906 a onça-troy, após um avanço de mais de 2% na segunda-feira, quando serviu de refúgio para investidores em busca de ativos mais seguro e diante da expectativa de pausa no ciclo de alta de juros nos EUA.

O Bitcoin subia 0,76% nas últimas 24 horas, a US$24.185; o Ethereum recuava 0,38% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, subia 0,38% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 devem acompanhar o ajuste em alta das taxas externas e ficam à mercê do impacto dos preços ao consumidor americano, após queda na véspera.

DESTAQUES

A agência de classificação Moody’s colocou todas as suas classificações de longo prazo para o banco americano First Republic em alerta para um rebaixamento em meio à incerteza sobre a saúde dos credores regionais do país após o colapso do Silicon Valley Bank. As ações do banco cederam 62% ontem, antes de terem as negociações suspensas em Nova York. A agência também colocou sob revisão os ratings do Western Alliance Bank, Zions Bancorp, Intrust Financial, Comerica e UMB. (Agências)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu “qualquer ação que fosse necessária” para garantir a segurança do sistema bancário dos Estados Unidos após o colapso do Silicon Valley Bank e do Signature Bank. As falas ocorreram após as medidas emergenciais anunciadas pelo Federal Reserve, banco central americano, visando fornecer liquidez adicional às instituições, se necessário. (Mover)

O ministro Fernando Haddad afirmou ontem ser necessário analisar os impactos da falência do Silicon Valley Bank nas taxas de juros globais, inclusive no Brasil. Ele citou declarações recentes do presidente do Fed, Jerome Powell, de que seguirá perseguindo a meta de inflação, embora entre em cena “o prudencial”. Haddad também disse estar em contato com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acerca do tema. Durante evento em Brasília ontem, Haddad disse que, embora em outros países não haja espaço para corte de juros, o Brasil tem gordura para queimar. (Mover)

Durante evento em Belo Horizonte na véspera, o ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), defendeu corte da taxa básica Selic já na próxima reunião de juros do Banco Central, argumentando que o Brasil não tem uma inflação de demanda. O discurso está alinhado ao do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que disse que o governo tem adotado compromisso fiscal, o que justifica o início da queda de juros já neste mês. (CBN)

A China retomará a emissão de vistos de turismo para estrangeiros em mais um dos passos de sua flexibilização das medidas de controle da Covid. A embaixada chinesa em Washington disse que, além de processar novos vistos a partir de quarta-feira, os vistos existentes anteriores a março de 2020, quando fechou suas fronteiras devido à pandemia, voltariam a ser válidos. (Financial Times)

O Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu nesta segunda-feira o leilão do Rodoanel Norte, que estava previsto para acontecer nesta terça-feira na sede da B3. (O Globo)

AGENDA

CPI (Estado Unidos) – O Birô de Estatísticas do Trabalho americano divulgará o Índice de Preços ao Consumidor de fevereiro. Divulgação: 09h30. Anterior: 0,5%. Consenso: 0,4%.

API (EUA) – O American Petroleum Institute divulgará os estoques americanos de petróleo na semana encerrada em 10 de março. Divulgação: 17h30. Anterior: -3,83 milhões de barris.

Federal Reserve (EUA) – A diretora do Fed Michelle Bowman discursará em evento econômico. Horário: 18h20.

Ata BoJ (Japão) – O Banco do Japão divulgará a ata da sua última reunião de política monetária. Horário: 20h50.

Vendas no Varejo (China) – O órgão de estatísticas chinês divulgará as vendas no varejo de janeiro e fevereiro. Divulgação: 23h00. Anterior: 1,30%. Consenso: 2,60%.

Balanços (Brasil) – A CVC Brasil, a Localiza, o Méliuz, a Cury e o TC divulgarão seus balanços do quarto trimestre de 2022 após o fechamento dos mercados brasileiros.