Por Bruno Andrade
A Light (LIGT3) não vive um bom momento. A companhia entrou com pedido de recuperação judicial em maio após reconhecer dificuldades para quitar dívidas de R$ 11 bilhões. A situação ficou ainda pior neste sábado (17), quando o diretor Thiago Freire Guth renunciou ao cargo.
A elétrica não disse o motivo para a saída do funcionário. Guth também era presidente da Light SESA, subsidiária da companhia, e fazia parte do conselho de administração da empresa. Depois dos acontecimentos, o investidor se pergunta: vale a pena acreditar na virada e dar mais uma chance para a empresa?
A resposta dos analistas ouvidos pelo Faria Lima Journal (FLJ) nesta segunda-feira (19) é não. O comunicado fez várias casas da análises ficarem mais receosas com a empresa. O temor foi tanto que nenhum dos analistas recomendou comprar as ações da empresa, visto que a situação da Light é muito complicada.
Para Arlindo Souza, analista de ações do TC Matrix, a própria saída de Guth mostra o quão complexa é situação da empresa. “O principal desafio é em relação às regras da renovação da concessão de distribuição de energia elétrica no Rio de Janeiro, visto que as regras atuais são desvantajosas para a elétrica”, disse Souza.
Segundo a própria Light, a empresa registra em média um furto de 53,98% de toda a energia que distribui. Ou seja, a elétrica é obrigada a absorver 35,28% de furtos e pode repassar para os clientes pagantes apenas os 18,7% restantes. Esse foi o principal motivo para a empresa entrar em recuperação judicial.
Segundo Eduardo Siqueira, analista da Guide Investimentos, a única forma da renovação da concessão ser atrativa para a empresa é se o governo fizesse um forte reajuste no valor da conta de energia. “Sem essa opção a situação da Light fica impraticável e difícil de se salvar”, afirmou.
Light respira por aparelhos e está sem previsão para sair da UTI
Por isso, os analistas continuam receosos. Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, deixou de recomendar o papel justamente por não acreditar muito em uma solução para o negócio.
“A situação ficou pior ainda porque os credores não aceitaram o acordo inicial para a empresa dar continuidade no plano recuperação judicial. Esse falta de acordo inclusive pode ser um dos fatores para a saída de Guth, visto que a Light SESA é a responsável pela maior parte da dívida de R$ 11 bilhões”, afirmou Arbetman.
Siqueira também ressaltou que esse acordo com credores só deve sair quando eles aceitarem que terão algumas perdas e que só receberão uma parte do dinheiro devido pela companhia. “Dadas as especulações, o que sabemos é que a situação de endividamento da companhia é alarmante e provavelmente um credor terá que aceitar a perda em relação ao principal investido. No entanto, o nível desse desconto só será visível conforme as negociações avançam”, explicou o analista.
Por fim, Ricardo Schweitzer, analista independente, argumentou que uma eventual manobra de ressuscitação da Light neste momento apenas a mantém viva, mas não resolve suas moléstias discutidas anteriormente. “A empresa tem uma série de problemas estruturais, que não são solucionáveis com a pura e simples injeção de dinheiro. O buraco é bem mais embaixo”, concluiu.