Por Patrícia Vilas Boas
O otimismo dos investidores estrangeiros em relação à bolsa brasileira é limitado pelas incertezas em relação ao quadro fiscal do país e sobre a trajetória da taxa Selic, diante de questionamentos recentes sobre a independência do Banco Central, revela o Itaú BBA em relatório que descreve reuniões de analistas com fundos em Nova York, Boston e Miami.
Segundo dados da B3, os investidores estrangeiros ingressaram com R$14,4 bilhões no mercado de ações brasileiro. Parte desse fluxo está relacionado aos “valuations” atrativos das principais ações brasileiras e do ambiente de maior otimismo com países emergentes diante da reabertura da China.
De acordo com o time de estratégia do Itaú BBA, a maior dúvida é quando o Banco Central vai começar a cortar os juros e o quão baixo pode chegar o patamar da taxa Selic.
“Nossa expectativa é que o BC só comece a reduzir os juros no quarto trimestre de 2023, com a taxa Selic caindo de 13,75% para 12,50%, no final de 2023 e para 10,00% no final de 2024”, escreveram os analistas Marcelo Sá, Luiz Cherman e Matheus Marques, em relatório.
O relatório também levanta preocupações dos “gringos” com a autonomia do Banco Central, após críticas do governo em relação à meta de inflação e ao patamar da Selic. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem declarado abertamente sua oposição à independência do BC e pressionado por um aumento do regime de meta de inflação.
Segundo Lula, a atual meta de inflação anual em 3,5% é um “exagero”. Ele sugeriu um alvo em 4,5%, em entrevista à Globonews.
“Por que não fazia 4,5%, como nós fizemos? O que precisamos nesse instante é saber o seguinte: a economia brasileira precisa voltar a crescer. E nós precisamos fazer distribuição de renda, nós precisamos fazer mais políticas sociais”, disse o presidente.
Também há questionamentos, diz o relatório, sobre como será a transição após o término do mandato do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em dezembro de 2024.
Na cena externa, os investidores acreditam que o Brasil deva se beneficiar de uma economia chinesa mais forte, dada a saída da China das políticas rígidas de “Covid zero” e seu impacto nos preços de commodities, mas há cautela em relação às perspectivas para os preços do minério de ferro.
O relatório também cita preocupações com o cenário político na Petrobras e com a crise bilionária na Americanas.