Ibovespa (IBOV): Para onde vai o principal índice da Bolsa em abril?

Veja o que esperar do Ibovespa após queda de 3% em março

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Por Bruno Andrade

O Ibovespa (IBOV) fechou em queda de 1,77%, a 101,8 mil pontos nesta sexta-feira (31). No acumulado de março, o índice recua 2,95%. Para analistas ouvidos pelo Faria Lima Journal (FLJ), a queda acontece após um mês conturbado por incertezas sobre o arcabouço fiscal e sobre os episódios bancários nos EUA e na Suíça.

“O início de março chocou o mercado internacional com a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e a crise profunda do Credit Suisse, que foi salvo após ser comprado pelo concorrente UBS”, disse o analista da Levante Investimentos, Flávio Conde.

Segundo o analista de ações do TC Matrix, Arlindo Souza, outro fator foi o temor do mercado em relação ao que seria o arcabouço fiscal. “O receio sobre a nova regra fiscal vem se arrastando desde o governo Bolsonaro, visto que a gestão anterior também queria mudar a regra fiscal, pois também não a agradava”, afirmou.

“Todavia, no último mês esse temor ganhou mais intensidade, pois , enquanto o novo governo definia o que seria essa regra, o mercado temia um descontrole. Qualquer informação que saísse fazia o Ibovespa cair”, explicou Souza.

Mas afinal, esses temores externos e internos devem continuar no próximo mês? O que o investidor deve esperar do Ibovespa em abril? De acordo com os analistas, “a única garantia é a volatilidade”.

O primeiro ponto é a questão do arcabouço fiscal. De acordo com o analista da Levante, Flávio Conde, o projeto apresentado pelo governo Lula acalmou o mercado por comprovar que o governo terá um controle de gastos. “A estipulação de um teto máximo de reajuste dos gastos, em 70% das receitas, foi muito bem recebida, pois mostra que o governo não vai gastar mais do que arrecada”, afirmou.

Por outro lado, de acordo com o analista da Terra Investimentos, Luis Novaes, o novo marco fiscal demonstra um alto grau de dependência em relação à reforma tributária. Para ele, o governo desenhou a proposta com a expectativa de que a arrecadação federal se tornará mais eficiente ao longo dos próximos anos.

“Até que seja definido de onde virá esse dinheiro, vemos que a perspectiva para os ativos de risco permanece incerta, o que não deve favorecer o desempenho do Ibovespa durante o próximo mês”, disse Novaes.

Já Flávio Conde, da Levante, e Arlindo Souza, do TC Matrix, uma possibilidade seria a taxação de empresas estrangeiras, como as varejistas e as casas de apostas.

A taxação de companhias como a Amazon, Shein e os jogos de apostas pode ser uma alternativa para o governo. “Ela não traria grande impacto para o setor produtivo no Brasil, pois essas companhias não geram empregos em nosso país”, afirmou Conde.

No entanto, Souza faz uma ressalva. Ele explica que não há nada definido e que tudo vai depender do Congresso. Para ele, esse é apenas o esqueleto do arcabouço fiscal.

“O mercado pode sofrer se surgirem outras opções de aumento de impostos, como os bancos. A expectativa é que isso não aconteça, mas o investidor deve ter cuidado, não sabemos o que pode acontecer”, detalhou Souza.

Juros e o Ibovespa

Outro fator que pode assustar são os juros, cujos índices, quanto mais altos, deixam a renda fixa mais atraente com relação à renda variável. Por isso, analistas comentam que as duas últimas quinzenas de abril serão assombradas pelas decisões do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), e o Banco Central brasileiro.

“A relação de juros e Bolsa é inversamente proporcional, ou seja, quanto maior os juros, pior é o desempenho do Ibovespa”, comentou Arlindo Souza, do TC Matrix. “Se a inflação americana não arrefecer, teremos outra alta de juros pelo Fed, o que vai provocar volatilidade e quedas”, disse.

De modo geral, os analistas preveem o Ibovespa variando entre 97 mil e 110 mil pontos. O cenário de 110 mil pontos é apontado como pouco provável. Para Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, uma forte alta aconteceria somente com uma rápida aprovação do arcabouço fiscal.

“Se tivermos aprovação rápida do arcabouço fiscal (máximo de 2 semanas), e se as questões nos EUA sobre a quebra de bancos e recessão da economia minimizarem, teremos novo rali de alta”, destacou.

Como essas condições são improváveis,  as expectativas não são de um bom desempenho no próximo mês. “Ao observar o ambiente interno e externo, não vemos catalisadores que possam impulsionar o Ibovespa ao longo de abril”, afirmou Novaes, da Terra Investimentos.