Por Gabriel Ponte e Felipe Corleta
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou nesta quarta-feira que a retirada de trecho do comunicado da decisão de juros do banco central americano que antecipava altas adicionais foi uma mudança significativa, embora uma decisão sobre a pausa do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos ainda não tenha sido tomada.
Powell disse que o apoio à alta de juros hoje foi “muito elevado”. Mas afirmou que o Fed está muito perto de pausar o ciclo de alta dos juros.
Quando questionado sobre cortes de juros ainda este ano, precificados pelos mercados, Powell disse que estes “seriam inapropriados” no cenário-base do Fed, que prevê um recuo lento da inflação.
Em coletiva de imprensa após a decisão de hoje do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), que elevou a taxa básica americana em 0,25 ponto percentual, para o patamar de 5% a 5,25%, Powell também afirmou que o BC americano adotará uma abordagem dependente de dados a partir deste momento para determinar a extensão de eventuais novas altas de juros.
Segundo Powell, as ações futuras do Federal Reserve dependerão do desenrolar dos recentes eventos no setor bancário.
“O Fed está particularmente focado no aperto das condições de crédito”, afirmou. Powell disse que os desenvolvimentos do setor financeiro podem impactar a economia de forma similar às altas de juros, embora seja difícil precisar a extensão dessa dinâmica.
Além de elevar os juros em 25 pontos-base hoje, o FOMC retirou hoje trecho do comunicado no qual antecipava que um endurecimento adicional da política monetária poderia ser apropriado para que os juros tocassem patamar “suficientemente restritivo”.
Segundo Powell, o Fed trabalha para alcançar esse patamar e lá permanecer por um “período estendido”, com o objetivo de trazer a inflação de volta à meta de 2,0%. “O Fed tem de equilibrar o risco de não fazer o suficiente [no combate à inflação] com o risco de desacelerar demais a atividade”. Para ele, a alta de juros imprimida hoje e a retirada da sinalização futura de novas altas equilibra esses riscos.
Questionado sobre a recente aquisição do First Republic Bank pelo JPMorgan Chase & Co e a concentração de mercado de grandes bancos nos EUA, Powell afirmou que o caso trata-se de uma exceção, em um movimento acompanhado pelos reguladores dos EUA. “É saudável, ao sistema, possuir diferentes portes de bancos na economia”, declarou.
De acordo com Powell, o mercado de trabalho norte-americano encontra-se “extremamente apertado”. Por outro lado, o crescimento salarial mostrou “alguns sinais” de desaceleração. Powell também descartou a tese de que o crescimento dos salários seja o principal impulsionador da inflação.
Para ele, um cenário em que se evita uma recessão econômica é mais provável do que a efetivação de uma. Caso ocorra uma recessão, Powell disse esperar que esta seja moderada. “Desta vez pode ser diferente”, afirmou, indicando que o desemprego pode subir menos neste ciclo de aperto de juros do que nos anteriores.
Por volta das 16h45, os rendimentos dos Treasuries de dois anos perdiam 9,6 pontos-base, a 3,902%, enquanto os rendimentos dos Treasuries de dez anos recuavam 4,4 pontos-base, a 3,386%. No mesmo horário, o Dow Jones recuava 0,68%. O S&P500 e o Nasdaq 100 caíam 0,51% e 0,65%, respectivamente. O índice Dólar DXY recuava 0,53%, aos 101,39 pontos. Na Chicago Mercantile Exchange, os derivativos precificavam majoritariamente que o Fed iniciará a redução de juros em setembro.