Por: Bruna Narcizo
Os entes envolvidos na repactuação do acordo pelo desastre de Mariana – representantes da Vale, da BHP e de órgãos públicos da União, de Minas Gerais e do Espírito Santo –, devem se reunir com o governo federal após o Carnaval para discutir o pagamento de indenizações pelo desastre ocorrido em 2015 em Minas Gerais, disse ao Scoop uma fonte envolvida diretamente no assunto.
Segundo essa pessoa, o novo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), já teve duas reuniões para tratar do tema com representantes do Judiciário e está com a minuta do acordo para analisar.
“Silveira tem afirmado que pretende resolver isso com celeridade”, disse a fonte.
O Ministério Público da União pedia R$155 bilhões de indenização. Duas outras fontes, que participam das negociações e pediram anonimato ao Scoop para falar livremente sobre o assunto, afirmaram que os órgãos públicos e a Samarco concordaram em dezembro do ano passado com o pagamento de cerca de R$110 bilhões.
A outra fonte afirmou que a negociação emperrou nos prazos que a empresa pedia, de cerca de 20 anos para o pagamento do montante, com aportes de valores mais altos nos últimos cinco anos.
“A ideia é inverter essa proposta. Queremos que os pagamentos mais altos sejam feitos nos primeiros cinco anos”, disse uma das pessoas envolvidas no processo.
A situação expõe a vulnerabilidade da Vale, dona junto com a BHP Billiton de maneira igualitária da Samarco, em relação aos problemas ambientais e de gestão causados pela queda de barragens, considerados os piores acidentes do tipo da indústria global da mineração.
Como a Samarco está em recuperação judicial, a cobrança das indenização deve ser feita diretamente das acionistas – medida que poderia significar um verdadeiro dreno no caixa da Vale, a maior mineradora do mundo, e da BHP, a segunda maior produtora de minério de ferro.
Procuradas, a Samarco respondeu em nome de suas acionistas Vale e BHP Brasil e informou que permanece aberta ao diálogo.
“Até novembro do ano passado, já foram indenizadas mais de 408,2 mil pessoas, tendo sido destinados mais de R$26,27 bilhões para as ações executadas pela Fundação Renova”, disse em nota, referindo-se à organização sem fins lucrativos responsável pela mobilização para a reparação dos danos causados pelo acidente.
Ocorrido em 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, provocou a morte de 19 pessoas, além da destruição do distrito de Bento Rodrigues (MG) e a poluição do Rio Doce, que chegou até o oceano no Espírito Santo.
A reparação em Brumadinho foi o acordo usado como base para essa repactuação com o MP e virou uma força motriz para a Vale avançar na agenda ESG – sigla em inglês para definir boas práticas ambientais, de governança e sustentabilidade.
*Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 15h01, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.