Por Erick Matheus Nery
Um grupo de credores da Americanas (AMER3) fez uma exigência para Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira: que eles não vendam suas ações durante um período de lock-up. Nesta terça (13), a varejista confirmou o pedido e informou que ele encontra-se em análise.
“Nestas conversas, como parte de uma negociação mais ampla, um grupo de credores solicitou a inclusão de um período de lock-up para venda de ações da companhia pelos acionistas de referência. A abrangência desse lock-up ainda está em discussão no âmbito do acordo mais amplo”, destacou a varejista em comunicado publicado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
As informações sobre o acordo de lock-up foram antecipadas pela Bloomberg na segunda (12). Segundo a agência de notícias, o trio ficará impedido de vender os papéis da empresa por cerca de três anos. O exato período ainda não foi definido, mas os bancos credores desejam que o lock-up dure até 2027, segundo o veículo.
No comunicado, a empresa ressaltou que ainda não existe um consenso entre os credores sobre a última proposta financeira apresentada e que as negociações seguem em curso: “Em que pese ainda não haver consenso com seus credores financeiros em relação à última proposta apresentada, a companhia segue empenhada em manter negociações construtivas com seus credores em busca de uma solução que permita a continuidade de suas atividades. Assim que um acordo esteja inteiramente negociado com os credores, a companhia divulgará ao mercado todo seu conteúdo”.
Fraude na Americanas
Na semana passada, fontes do Faria Lima Journal (FLJ) confirmaram à reportagem que a investigação havia constatado uma fraude nos balanços da empresa.
Nesta terça, em Fato Relevante publicado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a varejista informou ao mercado a existência da fraude e disse que o relatório do Comitê Independente de investigação aponta a participação do ex-CEO Miguel Gutierrez e de demais diretores da companhia neste escândalo.
Segundo o documento, foram encontrados diversos contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (“VPC”), incentivos comerciais usualmente utilizados no setor de varejo, que teriam sido artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais da Companhia como redutores de custo, mas sem efetiva contratação com fornecedores.
“Esses lançamentos, feitos durante um significativo período, atingiram, em números preliminares e não auditados, o saldo de R$21,7 bilhões em 30 de setembro de 2022”, disse a empresa.
As contrapartidas contábeis em balanço patrimonial desses contratos, os quais não tiveram lastro financeiro associado, se deram majoritariamente na forma de lançamentos redutores da conta de fornecedores, totalizando, em números preliminares e não auditados, o saldo de R$17,7 bilhões em 30 de setembro de 2022, diz a nota.