Copom duro e aperto externo ditam ajuste no mercado

Decisão de juros no Brasil contrariou a pressão do governo por corte da taxa Selic

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Por Patrícia Lara

O tom duro do comunicado do Comitê de Política Monetária do Banco Central na reunião de ontem traz ajustes no mercado, ao contrariar a expectativa de que poderia vir alguma sinalização de alívio no custo do dinheiro no Brasil já no encontro do Copom de maio. A decisão também contrariou a pressão do governo por corte da taxa Selic. Mas a batalha para domar a inflação prevalece não só entre as autoridades locais. Um dia após a elevação da taxa de juros americana ontem, o Banco Nacional da Suíça subiu hoje a taxa de juros pela quarta vez consecutiva e disse que a crise bancária acabou.

No Brasil, o comunicado do Copom foi considerado menos favorável ao corte de juros no curto prazo. Para a equipe da XP, o trecho do documento que diz que o comitê continuará “vigilante” foi lido como um sinal de que a Selic deve permanecer no patamar atual por um longo período – afirmação que corrobora a expectativa da instituição de que a taxa básica de juros brasileira permanecerá estável em 13,75% até o fim do ano. O BC manteve a posição de que não aceitará interferência do Planalto em suas decisões de política monetária, mesmo com o atual governo pressionando para que seja iniciado o processo de queda da Selic, segundo outros analistas ouvidos pela Mover.

No exterior, mesmo com as turbulências do Credit Suisse, o Banco Central da Suíça também não se curvou e elevou a taxa de juros em 0,50 ponto percentual, para 1,5%, num esforço para controlar a inflação no país. Outro BC, o da Noruega, também ajustou sua taxa hoje em 0,25 ponto percentual, de 2,75% para 3%, citando que há incertezas relevantes sobre os desdobramentos econômicos.

Nesse cenário, as bolsas europeias caem, mas os futuros dos índices acionários americanos sobem em recuperação do tombo da véspera. Ontem, o índice Dow Jones perdeu mais de 530 pontos, ou 1,6%, numa reviravolta da alta de até 201 pontos observada mais cedo. A volatilidade foi uma resposta aos sinais do Federal Reserve, o banco central americano, que elevou a taxa de juros em 25 pontos-base, conforme o esperado. O BC também deu a entender que sua campanha de contenção da inflação pode estar chegando ao fim, com a remoção da frase “aumentos contínuos” de seu comunicado.

O dólar estende a queda para a sexta sessão seguida e caminha para a sequência mais prolongada de perdas em dois anos e meio. O Índice dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante uma cesta de divisas pares, perdia 0,13%, para 102,39 pontos. O mercado reage ao aumento da taxa de juros pelo Fed ampliando as apostas em corte em um horizonte mais breve diante do risco ampliado de recessão econômica nos Estados Unidos.

Entre as moedas que apreciavam ante o dólar estava a libra esterlina, que subia 0,25%, a US$ 1,2296, já que o mercado também antecipa um aumento da taxa de juros ainda hoje pelo Banco da Inglaterra, após a inflação no Reino Unido ter voltado a acelerar em fevereiro.

Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de longo prazo retomam a alta nesta quinta-feira.

No mercado de commodities, os preços dos contratos futuros do petróleo recuavam, com o Brent para maio cedendo 0,87%, a US$76,02 o barril. O minério de ferro voltou a ceder na Bolsa chinesa de Dalian, fechando a sessão em queda de 2,01%, a 854 iuanes, o equivalente a US$125,05.

Na véspera, as ações da Vale extraíram 198 pontos do Ibovespa, que caiu 0,77%, para 100.220 pontos. Hoje, o mercado vai acompanhar se o índice furará os 100.000 pontos após o tom pessimista do comunicado do Copom. Mas o compromisso do BC para manter a inflação controlada sem se curvar a pressões pode trazer um suporte para o índice.

MERCADOS GLOBAIS

O Bitcoin avançava 1,38% nas últimas 24 horas, a US$27.916; o Ethereum subia 1,19% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, subia 0,38% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 na ponta curta devem subir em ajuste ao tom duro do Copom, enquanto os trechos longos podem seguir em queda, monitorando o exterior e o comportamento do dólar. O leilão do Tesouro com oferta de prefixado pode trazer reação adicional para o mercado.

DESTAQUES

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), avaliou como “muito preocupante” o comunicado do Copom. Em entrevista, Haddad disse que, a depender das futuras decisões do Banco Central, o resultado fiscal deste ano pode ficar comprometido, com prejuízos para o ambiente de negócios. “O comunicado deixa em aberto [o ciclo de juros], num momento em que a economia está retraindo e que o crédito está com problema”, disse. “O Copom chega a sinalizar até a possibilidade de uma subida da taxa de juros, que já é hoje a mais alta do mundo”, completou. (Mover)

Economistas consultados pela Mover acreditam que o Copom foi mais duro que o esperado no comunicado da decisão de juros desta quarta-feira e já mostrou estar na contramão das expectativas de corte da Selic em suas próximas reuniões. Esses especialistas ressaltaram que o comitê manteve a posição de que não aceitará interferência vinda do Planalto em suas decisões de política monetária. (Mover)

O Copom piorou nesta quarta-feira as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano em seu cenário de referência, para 5,8%, ante 5,6% estimados na reunião de fevereiro. Em seus cenários, o BC também elevou a projeção para o IPCA de 2024, a 3,6%, ante 3,4% em fevereiro. Em relação aos preços administrados, o comitê reduziu a projeção deste ano para 10,2%, ante 10,6% projetados no mês passado. Para 2024, entretanto, o Copom elevou a projeção a 5,3%, ante 5,0% estimados anteriormente. (Mover)

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou na última quarta-feira que um eventual aperto das condições financeiras nos Estados Unidos, oriundo da falência de bancos regionais, pode minar a necessidade de alta de juros na economia americana. (Mover)

O presidente do Fed, por outro lado, esclareceu que a autoridade monetária não prevê em seu cenário-base um corte de juros neste ano. Ele disse, porém, que o Fed ainda acredita ser possível uma trajetória de “pouso suave” na economia americana. (Mover)

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou na véspera que não há discussão sobre uma garantia ampla para todos os depósitos bancários, na esteira da falência do Silicon Valley Bank, e em meio a um cenário de dificuldades de instituições financeiras regionais. Como consequência, os papéis do First Republic Bank despencaram 15,5% na bolsa de Nova York, a US$13,33. (Reuters)

O governo da China suspendeu o embargo à importação de carne bovina produzida no Brasil, informou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), à TV Globo. A decisão foi informada pelo governo brasileiro três dias antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcar para a China, onde deve se encontrar com o líder do país asiático, Xi Jinping, para discutir, entre outros temas, avanços na pauta comercial entre os países. (G1)

Uma greve paralisa as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata do Metrô de São Paulo nesta quinta-feira. Metroviários solicitam a abertura de concurso público para contratações emergenciais, fim das terceirizações e o restabelecimento do adicional de periculosidade em alguns cargos. Além disso, os funcionários pedem o pagamento de abono salarial compensatório referente aos três anos trabalhados durante a pandemia. (Agências)

O conselho da Petrobras reconduziu Jean Paul Prates para a presidência da companhia até abril de 2025 e aprovou a nova composição da diretoria executiva. Sergio Caetano Leite, profissional com 15 anos de experiência no setor de petróleo, foi eleito diretor financeiro e de Relações com Investidores. Joelson Mendes será diretor de Exploração e Produção, e Claudio Schlosser será diretor de Comercialização e Logística, área responsável pela precificação de combustíveis. Ambos são funcionários de carreira da Petrobras. (Mover)

Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, Prates disse ontem que a estatal buscará praticar preços mais baixos nos combustíveis para ganhar participação no mercado. Ele também afirmou que a empresa não fará importações com margem negativa para atender à demanda nacional, a não ser dentro de um programa do governo. Prates disse ainda que não há, a princípio, plano de investir em novas refinarias, mas sim de avaliar “upgrades” em unidades existentes. (GloboNews)

AGENDA

Decisão de Juros (Inglaterra) – O Banco da Inglaterra decidirá a taxa básica de juros britânica. Divulgação: 09h00. Anterior: 4,0%. Consenso: 4,25%.

Índice de Atividade Nacional (Estados Unidos) – O Federal Reserve de Chicago divulgará o Índice de Atividade Nacional de fevereiro. Divulgação: 09h30. Anterior: 0,23. Consenso: 0,26.

Seguro-Desemprego (EUA) – O Departamento de Trabalho americano divulgará os pedidos de seguro-desemprego solicitados na semana encerrada em 18 de março. Divulgação: 09h30. Anterior: 192 mil. Consenso: 193 mil.

Leilão do Tesouro (Brasil) – O Tesouro Nacional brasileiro realizará leilão tradicional de Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-Fs) e de títulos prefixados. Horário: 10h30.

Venda de Casas Novas (EUA) – O Departamento de Comércio americano divulgará as vendas de novas residências de fevereiro. Horário: 11h00. Anterior: 670 mil. Consenso: 650 mil.

Confiança do Consumidor (Zona do Euro) – A Comissão Europeia divulgará o índice de Confiança do Consumidor de março. Divulgação: 12h00. Anterior: -19,0 pontos. Consenso: -18.3 pontos.

Balanços (Brasil) – A Aliansce Sonae, a Cogna, a Eneva, a Locaweb, a Oi e a Sabesp divulgarão seus resultados do quarto trimestre de 2022 após o fechamento dos mercados brasileiros.

Inflação (Japão) – O Ministério do Interior japonês divulgará os dados da inflação de preços ao consumidor de fevereiro. Divulgação: 20h30. Anterior: 0,4%. Consenso: -0,3%.

PMI (Japão) – A S&P Global, em parceria com o Jibun Bank, divulgará os Índices de Gerentes de Compras Composto, Industrial e de Serviços de março. Divulgação: 21h30. Anterior: 51,1 (Compras), 47,7.(Industrial) e 54,0 (Serviços). Consensos: 52,3 (Compras), 48,8 (Industrial) e 52,0 (Serviços).