BoJ dá 1º passo para fim de juros ultrabaixos

Autoridade monetária do Japão aliviou controle sobre curva de rendimentos

Unsplash
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Por Gabriel Ponte

O fim da política monetária ultrafrouxa do Banco do Japão (BoJ) pode estar próximo, após a autoridade monetária ter tornado mais flexível seu controle da curva de rendimentos ao relaxar o teto para as taxas dos títulos de longo prazo, conforme decisão nesta sexta-feira (28).

Na madrugada, o BoJ manteve inalteradas as taxas de juros de curto prazo e de longo prazo, em -0,1% e 0%, respectivamente. No entanto, a autoridade passou a permitir que a curva de juros se movesse mais livremente, de acordo com o aumento da inflação e do crescimento econômico. 

Embora tenha mantido a possibilidade de que os rendimentos dos títulos de dez anos continuem a se mover 50 pontos-base para cada lado, de -0,50% a 0,50% em relação à meta de 0%, o BoJ anunciou que esses níveis constituem “referências”, mas não “limites rígidos”.

Na prática, com a mudança, o presidente do BoJ, Kazuo Ueda, concede aos investidores uma maior liberdade para elevar os rendimentos dos títulos públicos. A decisão é importante, tendo em vista que as instituições financeiras asiáticas são investidoras majoritárias da dívida pública dos EUA e de títulos corporativos. 

Uma elevação das taxas de juros no Japão pode levar algumas dessas companhias a repatriarem recursos para o país asiático, o que influencia os mercados de títulos dos EUA, além de pressionar o dólar americano ante o iene japonês. Ueda, no entanto, disse não acreditar que o limite de 1% seria alcançado, classificando-o como “limite em último caso”.

A decisão do BoJ também ocorreu em um momento no qual pares como o Federal Reserve e o Banco Central Europeu decidiram subir juros ao longo da semana. Esse movimento de aperto nos mercados globais pode acelerar a depreciação do iene ante o dólar e também elevar os custos de importação do Japão, afetando sua inflação como consequência. 

Em relatório, a economista-chefe para o Japão do J.P. Morgan, Ayako Fujita, considera que as chances do fim de uma política de juros ultra baixo do BoJ “aumentaram consideravelmente” já no início do próximo ano. Já o economista do BNP Paribas, Ryutaro Kono, considerou a maior flexibilidade concedida ao controle da curva como uma preparação para quando o BoJ abolir as taxas de juros negativas. 

A decisão da madrugada impulsionou os rendimentos dos títulos de dez anos do governo japonês, que chegaram a tocar a máxima desde setembro de 2014 mais cedo, ao alcançarem patamar de 0,576%, para depois encerrarem em queda de 0,574%. O iene japonês se valorizou 1,2% ante o dólar, a 138,05 por dólar, para depois desacelerar alta, a 141,20 por dólar.