Por Simone Kafruni e Machado da Costa
O Palácio do Planalto confirmou há pouco o nome do deputado Celso Sabino (União Brasil) para substituir Daniela Carneiro (UB) no Ministério do Turismo. A mudança é o começo de um remanejamento que vem sendo cobrado por partidos que compõem o chamado Centrão, que colocou na berlinda as ministras da Saúde, Nísia Trindade, e do Esporte, Ana Moser, além da presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano.
Mais cedo, durante evento de sanção do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, Serrano recebeu apoio da plateia, com gritos de “Rita, fica”, após sofrer fritura do Centrão enquanto se recuperava de uma grave cirurgia. Rita negou que será afastada do cargo. “Não existe nada de concreto. Não houve conversa sobre possibilidade de eu sair. Isso é especulação e eu acho muito ruim, porque o objetivo é criar instabilidade no governo”, destacou.
Para tentar apaziguar os ânimos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocou panos quentes no assunto. Em entrevista a uma emissora de TV hoje, Lula disse que o Ministério do Desenvolvimento Social, do ministro Wellington Dias, é do PT, e que não haverá mudanças na Saúde. O presidente negou ainda que esteja sofrendo pressão de legendas para promover a reforma ministerial.
“Esse ministério [do Desenvolvimento Social] é um ministério meu, não sai. A Saúde não sai. Não é o partido que quer vir para o governo que pede ministério. É o governo que oferece o ministério. Seria uma inversão de valores”, disse o presidente.
A saída de Carneiro era dada como certa há semanas. Ela, que é esposa do prefeito de Belford Roxo, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho (Republicanos), anunciou que pediu a desfiliação do União Brasil para ingressar na legenda do marido. Desde então, o UB pressiona o governo para que Sabino assuma a pasta, o que acabou se concretizando hoje.
Na Caixa, quem pressiona a troca de Rita é o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), que pretende colocar o CEO do Banco Regional de Brasília (BRB), Paulo Henrique Bezerra Rodrigues da Costa, em seu lugar. Lira conseguiu angariar votos do Centrão para aprovar a Reforma Tributária na Câmara, mas a manobra vai custar caro ao governo e uma das moedas de troca para o seu apoio seria a presidência da Caixa.
O bloco dos partidos que compõem o Centrão vem cobrando o apoio que deu às pautas prioritárias do Ministério da Fazenda, como o arcabouço fiscal, o voto de qualidade do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) e a Reforma Tributária. O Centrão está minando as nomeações de Lula em busca de mais espaço na Esplanada e nas estatais.
Apesar de o presidente ter dito que não cederá às pressões, a verdade é que a confirmação de Sabino no Turismo mostra que o Centrão está vencendo. A própria postura de Lula na entrevista concedida hoje indica que ele está marcando território, sem abrir mão do Desenvolvimento Social, que cuida de recursos bilionários do Bolsa Família, nem da Saúde, pasta com maior orçamento, mas podendo negociar cargos em outros órgãos.
Ainda nos bastidores, o agrado ao UB, atendendo a troca de Carneiro por Sabino, visa movimentações de longuíssimo prazo no tabuleiro de xadrez que é a política brasileira. Lira não poderá se reeleger como presidente da Câmara em 2025, e o líder do UB, deputado Elmar Nascimento, é um dos postulantes ao cargo com mais força política atualmente.
O governo pode ser forçado a apoiar Nascimento, pois a alternativa apresentada para comandar a Câmara a partir de 2025 é o deputado Marcos Pereira (Republicanos), presidente do partido do governador paulista Tarcísio de Freitas.
Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 17H28, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.