Azul e Gol são rebaixadas por agências de risco, com cenário desafiador para empresas alavancadas

Agências citam contágio da crise da Americanas sobre o mercado de crédito brasileiro

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Por Gustavo Boldrini

Azul e Gol, as maiores aéreas brasileiras listadas na B3, tiveram notas de crédito rebaixadas pelas agências de risco Fitch e S&P Global ontem, refletindo um cenário desafiador para empresas com alto endividamento e perspectivas de deterioração na geração de caixa das companhias ao longo deste ano.

A Fitch reduziu a classificação da Azul de ‘CCC+’ para ‘CCC-’, citando maiores riscos de refinanciamento, pressão sobre o fluxo de caixa devido a pagamentos por financiamentos do tipo leasing e um contágio da crise da Americanas sobre o mercado de crédito brasileiro. Segundo a agência, a Azul tem R$5,1 bilhões em dívidas de curto prazo, enquanto o caixa recuou de R$3,4 bilhões para R$1,4 bilhão no final de 2021.

“Um cenário de renegociação menos favorável com empresas de arrendamento e outros fornecedores relevantes, apesar do suporte destes durante a pandemia de coronavírus, também foi considerado nesta ação de rating”, disse a Fitch em comunicado.

Já a S&P rebaixou a nota de crédito da Gol de ‘CCC+’ para ‘CC’, com perspectiva negativa, antevendo dificuldades para a empresa refinanciar uma amortização de US$425 milhões que vence em julho de 2024. A agência avaliou que a Gol terá déficit US$400 milhões de fluxo de caixa em 2023, e disse que pode ter dificuldade para captar novos recursos.

“No final do terceiro trimestre de 2022, a Gol tinha um nível de caixa acessível muito baixo de R$ 495 milhões, e prevemos que as fontes de caixa mais os fundos das operações não seriam suficientes para cobrir suas necessidades de curto prazo, como pagamento de leasing e capital de giro, nos próximos 12 meses, afirmou a S&P.

DIFICULDADES

Segundo o analista Pedro Pimenta, que cobre o setor aéreo na Eleven Research, tanto Azul quanto Gol têm buscado maneiras de alongar suas dívidas de curto prazo, com “algumas medidas na mesa para levantar capital”.

O risco, segundo ele, será o custo pelo qual esse capital virá, em um ambiente de taxa Selic a 13,75% ao ano, alta na curva de juros futuros e de apreciação do dólar sobre o real.

Em 31 de janeiro, o portal AirFinance Journal apurou que a Azul estaria buscando, dentre as opções para se reestruturar neste ano, uma possível operação Chapter 11 nos EUA, semelhante à recuperação judicial, como a realizada pela Latam. A companhia se recusou a falar sobre o tema após pedido de comentário da Mover.

Gilvan Bueno, sócio da Órama, ressaltou que o investidor deve ficar atento a modelos de negócios dependentes de crédito e com dívidas dolarizadas, como os das empresas aéreas. “A combinação de alta dos juros futuros, inflação e aumento do dólar é péssima para o setor”, disse o analista em publicação no Twitter.

As ações preferenciais de Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) têm precificado esse cenário, derretendo respectivamente 13,53% e 9,40% desde o início do ano. Nos últimos 12 meses, os papéis despencam mais de 60% cada. Ontem, Azul tombou 11,8%, e Gol perdeu 5,5%.