Ata do Copom mostra que Campos Neto não quer confronto com governo, diz MCM

Ata trouxe uma visão positiva em relação aos esforços do Ministério da Fazenda para a organização das contas públicas

Agência Brasil
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Por Stéfanie Rigamonti

O tom da ata da última decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira, mostrou que o Banco Central evitou um enfrentamento às críticas de políticos do governo federal nos últimos dias, o que mostra que o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, não quer entrar em um confronto direto com essa ala. A opinião é do cientista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores Associados.

Na semana passada, após o Copom quebrar as expectativas do mercado de indicação do início do corte de juros e publicar um comunicado duro para justificar a decisão de manter a taxa básica de juros brasileira em 13,75% ao ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que Campos Neto não está cumprindo com a sua função e disse que os integrantes do Copom “pagarão o preço” da decisão e que “a história julgará cada um”.

Segundo Ribeiro, além de a ata não ter esticado a corda após as declarações de Lula, ela ainda trouxe uma visão positiva em relação aos esforços do Ministério da Fazenda para a organização das contas públicas, com menção ao pacote fiscal apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

Para Ribeiro, até mesmo o arcabouço fiscal recebeu uma menção favorável na ata, com a possibilidade de que a nova regra melhore as expectativas de inflação, ainda que, segundo o documento, não haja uma relação direta e imediata entre o novo marco fiscal e a decisão de juros do BC.

Do ponto de vista do mercado, contudo, Ribeiro acredita que a ata foi dura, com vários recados e “tiro para tudo o que é lado” — até mesmo por isso, na visão do cientista político, houve uma dificuldade entre os especialistas de se chegar a um consenso sobre o tom do documento.

Na opinião de Ribeiro, o comunicado divulgado na semana passada com a decisão de juros foi mais duro do que a ata, mas isso, segundo ele, já era esperado. “O comunicado é sempre mais curto, mais lacônico, focado na questão da taxa Selic em si. Não há espaço para falar de condições para mudança no cenário da Selic”, explicou.