Após calote de Maduro, Lula quer moeda comum com a Venezuela

Petista culpa os EUA por fracasso venezuelano

Agência Brasil
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Por Bruno Andrade

“O Maduro não pode negociar em dólar por culpa dos EUA, que impôs sanções ao país. Talvez ele [Maduro] possa negociar com o Brasil em yuan”, disse o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em entrevista coletiva nesta segunda-feira (29). A fala acontece após reunião entre Lula e o presidente da Venezuela na parte da manhã.

Durante o discurso, Lula voltou a defender uma moeda única entre os países da América do Sul e até mesmo entre o Brasil e a Venezuela. “Eu sonho que a gente tenha uma moeda entre os nossos países para não precisar do dólar. O Haddad já publicou um artigo na Folha de São Paulo defendendo uma moeda única para toda a América do Sul. Eu sonhei e sonho para que a gente possa fazer nossas negociações”, afirmou.

A decisão é emitida após o país vizinho dar calote na dívida que tinha com o Brasil, que foi adquirida via Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES). A Venezuela pegou US$ 1,506 bilhão emprestados com o Brasil para construir o metrô de Caracas. Desse montante, US$ 681 milhões ainda não foram pagos.

A renegociação dessa dívida é uma das pautas da reunião que deve acontecer até o final desta segunda-feira. Nela, também estarão presentes o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

Durante a coletiva, Lula foi questionado se pretende retomar o comércio de energia elétrica com a Venezuela. Ele afirmou que um dos objetivos é “recuperar a relação energética entre os dois países”.

A tese foi confirmada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Ele comentou que a decisão política do governo federal sobre uma integração energética com a Venezuela já está tomada, mas ainda é necessário realizar a análise financeira e de viabilidade técnica.

Silveira ainda afirmou que a integração com o vizinho e a construção do chamado “linhão” para conectar Roraima ao sistema nacional de energia não são excludentes.

Lula condena EUA e União Europeia

O discurso de Lula foi amplamente focado em enfatizar que a Venezuela foi vítima de sabotagem, inclusive das democracias ocidentais como a União Europeia e os Estados. Segundo ele, esses países fizeram uma narrativa de que o país não era uma democracia. “Alguns líderes políticos não sabem nem onde fica o país de Maduro, mas insistem em dizer que a Venezuela tem problemas com a sua democracia”, explicou.

Lula relembrou ainda que os governos Temer e Bolsonaro fizeram pouca relação diplomática com a Venezuela e culpou as gestões anteriores do Itamaraty de fazer o ele classificou como relações internacionais “totalmente ideológicas”.

“Depois de oito anos, o presidente Maduro volta a visitar o Brasil e nós recuperamos o direito de fazer política de relações internacionais com a seriedade que sempre fizemos, sobretudo com os países que fazem fronteira com o Brasil”, disse Lula.

Enquanto isso, o presidente venezuelano afirmou que o seu país está aberto para receber o capital privado brasileiro.

“A Venezuela hoje está preparada para que retomemos nossas relações tão virtuosas, isso junto aos investidores e empresários brasileiros”, afirmou Maduro no Palácio do Planalto.

“A Venezuela está de portas abertas com plenas garantias a todo o empresariado para que voltemos ao tempo de trabalho conjunto de investimentos e crescimento econômico.”

Maduro é um dos 10 presidentes sul-americanos convidados por Lula para uma cúpula que discutirá o lançamento de um bloco de cooperação regional no lugar da Unasul, criada em 2008 durante a gestão anterior de Lula com os líderes de esquerda da época de Venezuela e Argentina, Hugo Chávez e Cristina Kirchner, respectivamente.

A organização fracassou quando vários países sul-americanos elegeram governos de direita nos anos seguintes, criando fissuras diplomáticas no continente. Ainda assim, Lula disse estar confiante.

“Vamos ouvir o que cada um dos 12 países quer fazer da integração”, disse Lula. “Vamos ter de discutir se queremos ser o que somos, ou se formamos um bloco para poder negociar com mais força”, concluiu o brasileiro.

(Com informações da Agência Reuters)