Analistas veem nomes técnicos na Petrobras, mas mantêm cautela à espera de dividendos

A Petrobras divulgou cinco novos diretores, apontados pelo presidente da companhia, o ex-senador petista Jean Paul Prates

Agência Brasil
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Por: Luciano Costa

Analistas de bancos de investimento viram as primeiras nomeações do governo do presidente Lula para a Petrobras como técnicas, mas mantiveram o tom cauteloso quanto às perspectivas para a estatal, à espera de definições sobre as políticas de dividendos, investimentos e preços dos combustíveis que serão aplicadas nos próximos anos.

A Petrobras divulgou ontem cinco novos diretores, apontados pelo presidente da companhia, o ex-senador petista Jean Paul Prates. Joelson Mendes Falcão será chefe da área de Exploração e Produção, com Carlos Travassos à frente de Desenvolvimento da Produção. Claudio Schlosser será diretor de Comercialização e Logística, enquanto William França ficará com a área de Gás e Refino e Carlos Barreto assumirá a cadeira de Transfomação Digital.

“Destacamos que a maior parte dos nomeados tem uma carreira desenvolvida dentro da Petrobras. Ressaltamos, no entanto, que a nova formação do conselho, ainda a ser anunciada, é que ficará responsável por definir a nova política de dividendos e as regras para alocação de capital”, disseram analistas do Goldman Sachs em relatório hoje. “Seguimos neutros quanto à Petrobras, uma vez que, apesar de estar avaliada em patamar relativamente barato, entendemos que aumentou a incerteza sobre as políticas a serem adotadas nos próximos anos”, acrescentou a equipe liderada por Bruno Amorim, que tem preço-alvo de R$26,30 para os papéis preferenciais. Essas ações fecharam hoje a R$24,79.

O time do Bradesco BBI, comandado por Vicente Falanga, disse que os novos diretores são “altamente técnicos” e devem ser aprovados nos comitês internos da companhia, mas também ressaltou que a vital decisão sobre o nível de dividendos será do conselho, com provável envolvimento do Ministério da Fazenda. Com a Fazenda buscando reduzir o “rombo” nas contas públicas para este ano, ainda haveria justificativas para uma distribuição de dividendos “sólida”, beneficiando o próprio governo, principal acionista da estatal, segundo o BBI.

“Se a decisão será pragmática ou não, ainda precisamos ver. Nós enxergamos a Petrobras com capacidade de pagar de US$5 bilhões a US$6 bilhões sem que isso ameace investimentos, alavancagem ou níveis ótimos de caixa”, acrescentaram os analistas, embora reduzindo de 60% para 40% a possibilidade de proventos nesse nível, equivalente a de 60% a 70% dos lucros estimados para o quarto trimestre. O preço-alvo do Bradesco BBI para os papéis preferenciais da Petrobras é de R$26, com recomendação neutra.

Em relatório após Prates ser confirmado pelo conselho para a presidência da companhia, o BTG Pactual opinou que a Petrobras “está em grande parte subestimada”, mas ainda há muitos riscos na tese, como o cenário altista no petróleo, que embora positivo a princípio elevaria o “ruído político” contra o preço dos combustíveis”. “Com base nas mensagens transmitidas pelo novo governo do Brasil, os investidores devem esperar mudanças radicais na maior estatal do país. Embora não descartemos um cenário em que o pragmatismo supere essa narrativa, apostar nela é extremamente arriscado, a nosso ver”, apontaram os analistas comandados por Pedro Soares, com recomendação neutra. O preço-alvo do BTG para PETR4 é de R$35,70.

AINDA OTIMISTA

O contraponto otimista vem por parte do Banco do Brasil, que destacou a experiência de Prates nos setores de petróleo e renováveis, bem como a intenção dele de investir em negócios ligados à transição energética. Em relatório, a equipe do BB disse que um corte nos dividendos já parece precificado, com os riscos agora concentrados em potencial mudança nos preços. “Entendemos, no entanto, que o contexto do setor e o posicionamento da Petrobras implicam em um cenário construtivo para a companhia no longo prazo”, escreveram.

De olho na diversificação em renováveis, que garantiria “perenidade dos negócios”, e projetando que os preços seguirão de alguma forma alinhados ao mercado internacional, embora sem seguir a chamada paridade de importação, o BB tem preço-alvo de R$43 para as ações da Petrobras em dezembro, o que significaria salto de 75% frente ao fechamento de ontem.