Por Artur Horta
São Paulo, 19/1/2023 – Em meio a uma das maiores crises da história corporativa brasileira, a varejista Americanas entrou hoje com um pedido de recuperação judicial na justiça do Rio de Janeiro, no qual reconhece um passivo total de R$43,0 bilhões.
O processo visa conseguir judicialmente a suspensão do pagamento de dívidas aos mais de 16 mil credores até que a varejista se recupere financeiramente. Segundo fato relevante divulgado na tarde desta quinta-feira, o pedido “será submetido à ratificação da Assembleia Geral da Companhia, a ser oportunamente convocada”.
Mais cedo, a Americanas anunciou que trabalhava para aprovar o pedido em questão de horas, tendo em vista a aprovação de um mandado de segurança obtido pelo BTG Pactual que congelou recursos da varejista em contas do banco, levando o caixa disponível para atividades da companhia a R$800 milhões.
A Americanas, inclusive, alega que o banco de André Esteves e o Votorantim teriam descumprido ordens judiciais e “usurparam” R$1,4 bilhão dos recursos da companhia, esgotando ainda mais o caixa.
No pedido de recuperação judicial, a varejista de Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles requereu uma autorização para continuar capitalizando a fintech AME, “um dos maiores vetores de renda do Grupo Americanas, peça fundamental para as operações da companhia”.
Este é o quarto maior caso de recuperação judicial já registrado no Brasil, atrás apenas de Odebrecht, Oi e Samarco, segundo a CNN Brasil.
Para a advogada Joana Bontempo, consultora de Reestruturação Empresarial e Falências do escritório CSMV, o processo de recuperação judicial das Americanas tende a ser “bastante complexo”, até porque a companhia teve pouco tempo para se preparar, sendo obrigada a entrar com o pedido devido à pressão de bancos sobre seu caixa.
“Em reestruturações, temos um termo para isso, que é crash landing´. É o contrário de um pouco suave… Uma reestruturação adequada exige toda uma preparação, a companhia precisa guardar caixa”, explicou, acrescentando que o processo provavelmente envolverá medidas como vendas de ativos.
Há oito dias, a Americanas comunicou a descoberta de “inconsistências contábeis” da ordem de R$20,0 bilhões, o que levou a uma crise de credibilidade junto a acionistas, credores, fornecedores, além da renúncia de Sergio Rial ao cargo de CEO da empresa, apenas nove dias após assumir o posto.
Desde então, as ações ordinárias da varejista (AMER3) acumulam uma queda de 90% na B3, sendo negociadas na mínima histórica de R$1,31 nesta tarde.
Nesse intervalo, agências de rating rebaixaram significativamente a nota de crédito da Americanas e colocaram sua perspectiva em revisão, tal qual fizeram analistas de ações. Enquanto isso, acionistas minoritários já começaram a se movimentar para processar a companhia no Brasil e nos Estados Unidos, bem como a PwC – empresa responsável por auditar os últimos balanços da Americanas – e o trio de acionistas de referência.
Fora do mercado de capitais, fornecedores já relataram um abalo nas relações comerciais com a empresa.
Tais fatores deixaram os credores “em polvorosa,o que foi determinante para que os bancos se recusassem a celebrar operações de adiantamento de recebíveis de cartões de crédito, o que poderia gerar um caixa adicional superior a R$3,0 bilhões” , disse um trecho do processo.