Por Machado da Costa
O tão debatido Acordo de Grãos do Mar Negro enfrenta um futuro incerto, com crescentes preocupações sobre sua sobrevivência após recentes eventos provocados pela Rússia, segundo Ian Bremmer, fundador da consultoria de risco político Eurasia Group. “O acordo está parecendo mais morto do que suspenso.”
De acordo com Bremmer, os ataques realizados contra o porto de Odessa, que resultaram na destruição de estoques significativos de grãos, somados ao anúncio de que navios que trafegam para e a partir de portos ucranianos serão considerados alvos legítimos devido à possibilidade de transporte de cargas militares, lançaram dúvidas sobre a continuidade do acordo.
Além dos ataques ao porto de Odessa, a Rússia advertiu a Turquia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em geral para não fornecerem escoltas militares para os navios, encerrando qualquer perspectiva de transportadores arriscarem a travessia. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu a criação de um corredor seguro pela Organização das Nações Unidas (ONU) ou pela OTAN. No entanto, ambos os caminhos parecem bloqueados: os russos certamente vetariam qualquer iniciativa da ONU, e a OTAN deseja evitar um confronto direto com o exército russo.
O impasse e a possibilidade de colapso do Acordo de Grãos do Mar Negro têm implicações significativas para o mercado global de alimentos. Os problemas nos fluxos de alimentos e fertilizantes resultantes afetam a vulnerabilidade de países, especialmente na região subsaariana, e provocam um aumento nos preços globais de grãos. Além disso, a incerteza quanto à continuidade do acordo pode levar a flutuações nos mercados, tornando os agentes financeiros cautelosos diante de possíveis instabilidades e desequilíbrios na oferta de alimentos em âmbito global.
Hoje, a agência de notícias ligada à corretora europeia ActivTrades informou que quase 30 navios ancoraram no terminal ucraniano de Izmail após ataques russos no rio Danúbio. Outras três embarcações pararam de navegar na hidrovia, que leva ao porto de Reni, na Ucrânia. As razões para este movimento não foram esclarecidas.
É importante ressaltar que as interrupções no fluxo de grãos não são tão graves como no início da guerra, uma vez que a Ucrânia agora redireciona uma parcela significativa de suas exportações agrícolas através de rotas não relacionadas ao Mar Negro. No entanto, os desdobramentos recentes ainda geram preocupações no cenário econômico global.
Bremmer pontua que os desdobramentos podem afetar a credibilidade da Rússia no sul global. Países como o Quênia, anteriormente neutros ao conflito de forma geral, agora se mostram fortemente críticos à Rússia. A vulnerabilidade da região subsaariana se torna ainda mais preocupante diante das perturbações nos fluxos de alimentos e fertilizantes, que também levaram a um aumento nos preços.
Os esforços da Rússia em buscar alternativas para contornar a Ucrânia enfrentam obstáculos significativos, na leitura do analista. Ele afirma que, embora os russos estejam procurando a cooperação de Turquia e Catar, ainda não há confirmação do apoio desses países, e muitos são céticos de que tais nações facilitarão os planos russos sem um acordo mais amplo.
Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 12H27, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.