Por Luciano Costa
Com as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) saltando mais de 30% neste ano, alguns analistas começam a questionar se o mercado não exagerou no pessimismo com a estatal sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após diversos bancos terem recomendado cautela ou até a venda de papéis por preocupações políticas desde a campanha eleitoral do ano passado.
Temores de que a Petrobras fosse promover uma mudança radical na política de preço dos combustíveis não se confirmaram até agora, e o mercado de petróleo sinaliza uma maior estabilidade, o que junto com o real mais valorizado pode ajudar a reduzir pressões do governo sobre a empresa, destacou o analista sênior do TC Matrix Arlindo Souza.
“Não dá para só ignorar. Pelo consenso de mercado, todos os analistas estão conservadores. Eles têm suas teses e seus motivos, mas achamos que o pessimismo está demais, e estamos enxergando uma oportunidade”, afirmou
O TC Matrix alterou a recomendação para os papéis da Petrobras de “neutra” para “compra”, citando perspectivas de forte geração de caixa e “pouco espaço para uma mudança abrupta na precificação dos combustíveis”, após o CEO da estatal, Jean Paul Prates, ter garantido que ela não abandonará totalmente a correlação com o mercado internacional de petróleo.
A equipe do BB Investimentos, por sua vez, tem mantido recomendação de “compra” por avaliar que as ações estão bastante descontadas na comparação com rivais, segundo relatório assinado pelo analista Daniel Cobucci.
As PN da Petrobras sobem mais de 32% neste ano e 49% em 12 meses. Ainda assim, o múltiplo dado pela relação entre o valor da companhia (EV) e o EBITDA está em 2,7 vezes para 2023, ante 3,7 vezes dos pares, enquanto a relação entre preço dos papéis e lucro está em 3,4 vezes, “50% menor que a média dos pares”, destacou o BB-BI.
“Entendemos que tal desconto reflete a percepção de riscos, como a recessão global, que poderia levar a redução nos preços de commodities, e mudanças na políticas de investimentos, com eventual elevação desproporcional em projetos com retornos mais baixos”, escreveu o time do BB-BI, citando também receios quanto aos preços dos combustíveis.
A visão do BB-BI já leva em consideração a redução na distribuição de dividendos para 50% do lucro líquido. O preço-alvo do banco para os papéis é de R$36.
Embora mantenha perspectiva “neutra” para a Petrobras, à espera de definições sobre dividendos, a equipe do BTG Pactual destacou em relatório no mês passado que há um “melhor sentimento” sobre a estatal no mercado após a divulgação da política de preços. “Uma nova estratégia que mantém os princípios de mercado reduz a percepção de risco e contribui para nossa visão de que um cenário de elevado ´downsize´ para a Petrobras agora parece improvável”, escreveram os analistas liderados por Pedro Soares.
No lado mais pessimista, o UBS-BB manteve a recomendação de “venda” para os papéis da Petrobras em relatório no mês passado, citando riscos devido a notícias sobre uma possível aquisição da Braskem ou da Vibra pela estatal. O banco tem preço-alvo de R$20 por ação.
A Genial Investimentos também sugeriu a “venda” de Petrobras em março, citando na ocasião riscos políticos e anúncios da estatal sobre investimentos em novos segmentos, como eólicas offshore e hidrogênio verde, que podem ter retornos menores.
Mas para Souza, do TC Matrix, a entrada da Petrobras em negócios ligados à transição energética segue os passos de outras empresas do setor e deve demorar para ter impactos práticos sobre o balanço.
“O valor atual das ações aguenta muito desaforo. É só não acontecer um desastre.. Se ficar tudo de lado até o final do ano, tem chances até de ela performar melhor que a PRIO”, afirmou o analista, em referência à maior petroleira independente do país, cuja ação é a preferida pela maior parte dos analistas de mercado no setor de óleo e gás.
Perto das 12h30, as PN da Petrobras avançavam 2,89% na B3, a R$28,86, no maior nível desde a eleição presidencial de 2022.