Energia solar deve "reacelerar" no Brasil com queda de juros e equipamentos mais baratos, diz BV

Em entrevista à Mover, executiva do banco detalha cenário

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Por Luciano Costa

O segmento de geração distribuída de energia solar, em que pessoas ou empresas instalam placas fotovoltaicas para atender à própria demanda por energia, reduzindo a conta de luz, segue em forte expansão e deve voltar a acelerar nos próximos meses, depois de ter perdido um pouco do ritmo no início deste ano, diante de mudanças regulatórias e de condições macroeconômicas desafiadoras, disse à Mover a superintendente e líder de financiamento solar do banco BV, Mariana Granata.

O impressionante ritmo de crescimento desse nicho de negócios, também conhecido pela sigla “GD”, atraiu o apetite de empresas como os grupos de eletrônicos e comunicações Intelbras e WDC Networks, além de diversas companhias do setor elétrico, incluindo subsidiárias de EDP Brasil, Cemig, Energisa e Equatorial, e dos players de combustíveis Raízen e Vibra Energia.

A redução das taxas de expansão da “GD” veio após uma lei aprovada no Congresso que definiu novas regras para essa forma de geração, estabelecendo a cobrança de algumas taxas para sistemas instalados após 2023, o que aumentou um pouco o período necessário para retorno do investimento e gerou uma certa “corrida” por equipamentos no final de 2022.

“Sentimos um quarto trimestre bem mais forte e esperávamos mesmo um período de sazonalidade mais baixa na sequência. Aí também teve a mudança de governo, que gera um pouco de incerteza, e as condições macroeconômicas mais complexas. Mas vemos uma excelente perspectiva. Podemos até discutir a velocidade, mas a vertente do setor é essa, de crescimento”, disse Granata em entrevista à Mover.

A BV, líder em financiamentos a sistemas de GD solar, viu sua carteira de empréstimos para o setor sair do zero em 2018 para R$4,7 bilhões ao final do primeiro trimestre. No período, o banco teve aceleração de 52% dos negócios no setor frente ao início de 2022, um ritmo impressionante, embora abaixo dos 85% de expansão anual registrados no quarto trimestre.

Daqui em diante, no entanto, a expectativa é de que o setor solar seja beneficiado pela queda nos valores de equipamentos e fretes, que dispararam no ano passado, e também por um real menos desvalorizado frente ao dólar, que ajuda porque os equipamentos são na maior parte importados. Um ciclo de queda na Selic, projetado pelo mercado financeiro para começar no segundo trimestre, também deve ajudar, uma vez que os juros altos reduzem a propensão das famílias a investir.

Em paralelo, as empresas de energia solar agora buscam convencer clientes de que ainda vale a pena investir nas placas próprias, mesmo após a criação de taxas sobre a energia produzida. Em parte do mercado, há inclusive a percepção de que muitos erraram na estratégia ao destacar demais o lado negativo das novas regras tentando acelerar negócios em 2022, o que prejudicou o ritmo de vendas neste ano.

“Na média, o tempo para ´payback´ do investimento era de três a seis anos, e isso mudou para de quatro a sete anos. É uma mudança marginal”, afirmou Granata.

De olho na expansão do setor e do apelo da sustentabilidade para o consumidor comum e empresas, a BV ainda passou a financiar sistemas de GD de porte médio, que na prática são miniusinas solares que vendem a produção no varejo ou em contratos diretos com companhias. O banco também entrou no financiamento de baterias para sistemas solares.

Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 15H33, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.