Por Mover e Reuters — atualizado às 13h54
O Banco Central estuda extinguir a modalidade de rotativo do cartão de crédito, em uma tentativa de solucionar o problema envolvendo os juros elevados e a inadimplência do produto, segundo o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, que participa de audiência pública no Senado.
Segundo ele, a medida envolveria a destinação das faturas não pagas para o sistema de crédito parcelado do cartão, com uma taxa de juros que ficaria próxima a 9%. Campos Neto estimou que uma solução deve ser apresentada em até três meses.
O presidente do BC explicou ainda que, hoje, o país possui uma taxa de inadimplência de 52% no rotativo do cartão de crédito, o que não tem “paralelo no mundo”. O rotativo é um tipo de crédito que pode ser ofertado aos clientes de cartão de crédito que não conseguem pagar a fatura por inteiro. Ou seja, quando adere ao crédito rotativo, o cliente de uma instituição financeira está pagando juros em cima do valor que não conseguiu quitar.
Essa opção é diferente do crédito parcelado, que possui juros menores. Campos Neto fez questão de ressaltar que o cartão de crédito é um “grande problema”, em razão de um mercado com características muito diferentes no país.
“O parcelado sem juros ajuda muito o comércio, mas tem aumentado o número de parcelas. Hoje, o prazo médio são treze parcelas”.
“Quem não paga o cartão vai direto para um parcelamento ao redor de 9%, e a gente cria algum tipo de tarifa para desincentivar esse financiamento, parcelamentos sem juros tão longo. É simplesmente tentar fazer com que ele fique um pouco mais disciplinado”, explicou o presidente do BC.
Inflação de serviços no Brasil preocupa um pouco mais
Durante a sessão no Senado, Campos Neto afirmou que a inflação de serviços no Brasil “preocupa um pouco mais”, citando que o núcleo ainda está alto. De acordo com o líder da autoridade monetária nacional, o BC está observando a inflação de serviços como um elemento importante para a convergência da inflação às metas.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária do BC deu início ao processo de redução da taxa básica Selic, com corte de 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano. Ao mesmo tempo, sinalizou a intenção de promover novas reduções de meio ponto percentual nos próximos encontros.
Aos senadores, Campos Neto afirmou ainda que o Brasil é um destaque entre os países na relação entre queda da inflação e pouco dano ao Produto Interno Bruto (PIB) e ao nível de emprego.
De acordo com o presidente do BC, para combater o que ele qualifica como uma “crise de inflação mundial”, o Brasil precisou subir os juros, mas menos que outros países.
“O Brasil foi capaz de combater a inflação com aumento de juros menor que a média dos países”, pontuou Campos Neto. Segundo ele, o Brasil também tem uma taxa de juros real elevada, mas abaixo da média na comparação com outros países.
Ao tratar dos motivos para que a Selic seja nominalmente tão elevada no Brasil, Campos Neto citou fatores como a baixa taxa de recuperação de crédito no país, os níveis da taxa de poupança, a dívida pública maior que outros países e o risco médio percebido “um pouco maior”.
Campos Neto também criticou o nível do crédito direcionado no país, hoje na casa dos 41% do total dos financiamentos.
“Em momentos em que o crédito direcionado baixou, a taxa de juros estrutural foi mais baixa”, disse.
Problema global
O presidente do BC também defendeu no Senado que a inflação é um problema global, não exclusivo do Brasil. Segundo ele, o índices de preços estão “melhorando’ em grande parte do mundo, mas os núcleos de inflação nos países avançados e na Ásia praticamente não caíram.
Ao avaliar a inflação atual, Campos Neto pontuou que o elemento da oferta é muito menor que o da demanda. Ao mesmo tempo, disse que a inflação é uma espécie de “imposto” que afeta mais a classe baixa e gera aumento da desigualdade.
Confira a sabatina ao vivo: