Por Erick Matheus Nery
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) argumentou que seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid está adotando uma estratégia “camicase” para sair da cadeia. O posicionamento do ex-governante ocorre após a revelação de que Cid pretende confessar à Justiça que vendeu joias da Presidência e repassou o dinheiro ao então governante.
Em entrevista ao repórter Túlio Amâncio, da BandNews, Bolsonaro argumentou que Cid está preso há muito tempo e, por isso, vai falar “qualquer coisa” para conseguir sua liberdade. O ex-ajudante de ordens segue preso desde o dia 3 de maio.
Além disso, o ex-governante afirmou que não recebeu nenhum dinheiro da venda dos presentes concedidos por outros países à Presidência e que não tinha conhecimento da comercialização desses itens.
Segundo Amâncio, Bolsonaro também disse que não conversou com Cid nem com o pai do seu ex-assistente, o general da reserva do Exército Lourena Cid, desde a operação de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal na semana passada.
Na quinta (17), a revista Veja publicou uma reportagem em que o novo advogado de defesa de Mauro Cid, o criminalista Cezar Bittencourt, revelou que seu cliente pretende confessar à Justiça que realizou a venda de itens como relógios de luxos e joias e que Bolsonaro sabia que essas atitudes vão de encontro à legislação brasileira. Só as joias são avaliadas em R$ 1,1 milhão.
ENTENDA O CASO
Em termos práticos, esses itens de alto valor foram presenteados por autoridades estrangeiras ao casal Jair e Michelle Bolsonaro durante viagens em que representavam o País. Pela lei, esses itens, por seus valores, deveriam entrar no acervo nacional em vez de se tornarem bens pessoais do casal.
No entanto, tudo indica que o casal não apenas apropriou-se desses bens, como, com o auxílio de auxiliares diretos, os venderam nos Estados Unidos para obter lucros financeiros. Além disso, a Polícia Federal (PF) acredita que, ao perceberem que haviam sido descobertos, Bolsonaro e seu grupo tentaram recomprar os itens às pressas e devolvê-los ao patrimônio público brasileiro.
A confissão de Cid corrobora a tese da PF e reforçaria o argumento de que o ex-ajudante foi quem “sujou as mãos” em detrimento de lucros para Bolsonaro.
Após a revelação do conteúdo da revista, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal de Bolsonaro e Michelle. Além disso, o ministro do STF autorizou o pedido de cooperação internacional em que a PF solicita que as autoridades norte-americanas quebrem o sigilo bancário das contas norte-americanas dos investigados no caso das joias.
Para as jornalistas Andreia Sadi e Camila Bomfim, da GloboNews, Bittencourt confirmou que seu cliente pretende entregar o ex-presidente: “O dinheiro era de Bolsonaro, ele que mandou comprar, vender e o dinheiro era dele. O Cid ia ficar com esse dinheiro para quê? Ele era o ‘longa manus’”.