"Bolsonaro disse que me daria indulto após fraudar urna", diz hacker

Veja depoimento ao vivo na CPMI dos atos do dia 8 de janeiro

Agência Câmara
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Por Bruno Andrade

O presidente Jair Bolsonaro me assegurou que me daria um indulto depois que eu colocasse o plano de fraudar as urnas eletrônicas em prática, disse Walter Delgatti Neto, hacker preso no último dia 2 de agosto.

“A ideia era que eu receberia um indulto do presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal (Daniel Silveira) e como eu estava com o processo da spoofing na época, eu visava esse indulto e foi oferecido no dia”, afirmou.

O depoente disse que se reuniu com Bolsonaro e explicou as questões técnicas da urna eletrônica. “Eu disse para ele que não teria como fraudar as urnas, pois a urna é off-line, só teria como fraudar se ela fosse online”, explicou Delgatti.

Ainda assim, segundo o hacker, Bolsonaro foi insistente e o levou para conversar com o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, para combinar a melhor forma possível de fraudar a urna. A proposta final ficou em fazer um vídeo falso mostrando a violabilidade da urna.

Delgatti comentou que o relatório do Ministério da Defesa emitido no final do ano passado sobre o parecer das urnas foi feito por ele. O relatório diz que não é possível assegurar que as urnas eletrônicas são 100% seguras, mas que não é possível provar que elas estão suscetíveis a fraude.

O hacker foi questionado por parlamentares qual seria a melhor forma de assegurar a apuração de votos da urna, Walter foi direto em sua resposta. “Apenas com a impressão do voto para uma nova checagem”, disse.

A proposta do voto impresso foi colocada em pauta na Câmara dos Deputados no ano passado. O projeto foi rejeitado por 229 votos favoráveis, 218 contrários e 1 abstenção. Como não atingiu o mínimo de 308 votos favoráveis, o texto foi arquivado.

Por fim, o depoente comentou que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), estava sendo grampeado por aliados de Bolsonaro. Delgatti disse que o ex-presidente propôs para ele assumir um dos grampos.

“Bolsonaro explicou que a esquerda não teria argumentos contra o grampo se eu o assumisse, pois eu era o hacker da vaza-jato (grampos que colocaram a operação lava-jato sob falta de credibilidade)”, contou Delgatti.

A CPMI mostrou fotos de Delgatti se reunindo com Bolsonaro.

Quem é Walter Delgatti Neto?

Walter Delgatti Neto foi preso em decorrência das investigações sobre ataque hacker ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O ataque inseriu de forma ilegal 11 alvarás de soltura de pessoas presas e um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em depoimento anterior, o hacker confirmou que a ação visava demonstrar a vulnerabilidade do sistema de Justiça brasileiro e descredibilizar publicamente o sistema eletrônico de votação, com o intuito de questionar o resultado eleitoral das urnas.

À Polícia Federal Delgatti afirmou que a invasão foi proposta pela deputada Carla Zambelli (PL-SP). “A oitiva do Walter Delgatti Netto, conhecido como ‘Hacker de Araraquara’, poderá auxiliar essa comissão a esclarecer como a deputada Carla Zambelli atuou de modo a questionar a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro nas eleições de 2022”, disse a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), autora de um dos requerimentos de convocação do hacker.

O depoimento de Delgatti também foi proposto pelos deputados Rogério Correia (PT-MG), Duarte Jr. (PSB-MA), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) e o Rubens Pereira Júnior (PT-MA).

(Com Agência Câmara de Notícias)